domingo, 16 de outubro de 2016

A epidemia de cólera de 1853-1856 em Chã de Alvares


O longo dos tempos, várias foram as epidemias que assolaram o mundo, dizimando milhares de vidas.Com níveis de mortandade maior ou menor, foram sempre as responsáveis pelas altas taxas de mortalidade existente. Nos últimos duzentos anos, épocas houve de maior taxa de mortalidade, como as que ocorreram em 1855, 1899 e 1918 na região serrana, onde a cólera, a peste bubónica, o tifo exantemático, a gripe pneumónica e a varíola atacaram e mataram percentagens elevadas da população.Essa mortandade extraordinária é não só explicada por epidemias, mas igualmente por anos de maior carência alimentar.

A epidemia de 1853-56,matou milhões de pessoas em todo o mundo, tendo vitimado mais pessoas que a Gripe Espanhola, em 1918.

Depois de se espalhar por toda a Europa e pelo Mediterrâneo, Canadá, Estados Unidos e as ilhas das Caraíbas em 1853, essa epidemia de cólera chegou a Portugal em Dezembro pela fronteira norte, onde se registaram dois casos. Em Maio de 1854, começaram a morrer pessoas, e medidas de quarentenas foram postas em prática. Nessa fase ainda se negava a epidemia em Portugal. Os jornais portugueses transcreviam diariamente os editais do conselho de saúde, que classificavam os portos estrangeiros como limpos, suspeitos ou sujos, consoante o grau de infecção de cólera ou febre-amarela, e com implicações directas em medidas de quarentena, imediatamente contestadas pela limitação à liberdade do comércio. De facto, os países afectados ficaram praticamente paralisados nesses anos devido ao número de mortes e à imposição das medidas sanitárias. Nos anos seguintes, as duas epidemias espalharam-se para o Brasil, onde, até Dezembro de 1855, vitimaram, só no Rio de Janeiro, 3.540 pessoas (O Comércio, 20 dez. 1855, p.2).

Em simultâneo, outras doenças afectaram o norte de Portugal nesse ano de 1854: a raiva, o sarampo e o tifo, e as febres intermitentes (malária) junto aos campos de arroz, nessa época a provocar grandes danos especialmente no termo de Leiria. Em Setembro, as cidades portuguesas de fronteira começaram a tomar medidas preventivas para evitar o contágio de Espanha. E os jornais começaram a alertar as autoridades sanitárias para limpar as cidades e tomar as medidas aconselhadas pela higiene. Em Janeiro de 1855, a Andaluzia (no sul de Espanha) e a Galiza (ao norte) foram consideradas sujas ou infectadas, o que constituía um perigo directo para as fronteiras portuguesas. Contudo, a cólera acabou por penetrar Portugal pelo rio Douro, infectando com gravidade as vilas ribeirinhas a partir de Maio. Imediatamente o Porto foi isolado: nenhum barco podia chegar pelo rio à cidade sem passar pelo controlo montado uns quilómetros antes de cumprir a quarentena. Os protestos começaram logo nos jornais portuenses contra esse "verdadeiro atentado à liberdade do comércio" e contra as "medidas ineptas, que muito prejudicam o público, e especialmente a classe comercial" (O Comércio, 16 maio 1855, p.2), e que ainda por cima permitiam a passagem das pessoas por via terrestre.

Ao mesmo tempo que o Porto se preparava para a invasão da epidemia, montando hospitais especiais, distribuindo panfletos explicativos das medidas de higiene e ocupando as meninas da sociedade com os bordados para os lençóis e as roupas para os doentes, a discussão nos jornais sobre o tema do contágio e da verdadeira eficácia das medidas de quarentena chegava ao rubro (Martins et al., 1997). Especialmente quando as feiras e os mercados foram proibidos, em Junho de 1855; considerando que essa era a base da actividade económica da região, os produtores poderiam ir à falência se não colocassem os seus produtos, o que constituía "uma calamidade superior à transmissão do mal, porque o mal resultante é muito maior aumentando a miséria" (O Comércio, 1 ago. 1855, p.1).






Às medidas sanitárias impostas pelas autoridades, que proibiam a concentração e a circulação de pessoas e bens, os jornais contrapunham com a negação do contágio, o que evidenciava a inutilidade das referidas medidas: "Ora está-nos parecendo que se o cólera fosse contagioso, como a peste, a sarna, ou a lepra, pelo menos o teria agarrado o snr. delegado de saúde, que tanto contacto e comércio tem tido com gente vinda do Douro..." (O Comércio, 21 jun. 1855, p.2). Para sustentar a sua posição, os jornais forneciam abundantes exemplos dos países 'mais avançados' do norte da Europa, que não tinham adoptado esse tipo de medidas (Baldwin, 2005) e com citações e artigos completos de publicações científicas internacionais. Por exemplo, O Comércio transcreveu um artigo do doutor H. Chomet, publicado no Jornal do Commercio do Rio de Janeiro em 4 de Setembro de 1855, que pretendia tranquilizar as pessoas atemorizadas pela ideia do contágio da moléstia. ... Depois de uma vigorosa observação, experiência fatal e discussão séria, todos os povos mais cultos da Europa concordaram em considerar o cólera como não contagioso. ... Vejamos pois algumas provas, observações e experiências. Nas doenças verdadeiramente contagiosas, tais como a sífilis, bexigas, hidrofobia, vacínio, etc., acha-se sempre uma substância orgânica secretada durante a enfermidade, a qual inoculada produzirá infalivelmente a mesma enfermidade. No cólera morbus nada disso se observa. Os sintomas são os de um verdadeiro envenenamento por agente imponderável espalhado nos ares, produzindo a aniquilação das forças vitais, diminuição ou supressão das funções principais, e seguido de uma reacção violenta, porém saudável, quando o princípio tóxico é repelido da economia. ... A rapidez da difusão da epidemia deve afastar ainda a ideia do seu contágio... sem que seja possível admitir a transmissão dos miasmas emanados do corpo dos enfermos (O Comércio, 13 out. 1855, p.1-2).



Na mesma linha, as medidas higiénicas preventivas eram consideradas essenciais, uma vez que a verdadeira causa da doença residia, segundo os redatores, em comportamentos desviantes e na falta de cuidados. Nessa fase abundaram os artigos desenvolvidos com conselhos de higiene para limpeza das casas e das ruas e os anúncios de livros de medicina especializados em cólera, incluindo os tratados homeopáticos, amplamente divulgados e anunciados nas páginas dos jornais.



Essa discussão tão presente nos jornais reflectia a tendência da época, que dividia os defensores da teoria do contágio e os seus opositores. Enquanto, durante séculos, o contágio das doenças fora defendido, o século XIX viu surgir uma nova geração de cientistas que o negaram, baseando-se na ineficácia das quarentenas e dos cordões sanitários (especialmente na altura da epidemia de cólera de 1832), remetendo-o para o domínio do fantástico, absurdo e infantil. Baseados em experiências várias, incluindo no seu próprio corpo, e imbuídos do espírito liberal da época, os cientistas defensores do 'anticontagionismo' lutaram pela liberdade do indivíduo e do comércio, contra o despotismo e a reação (Ackerknecht, 1948). Verificou-se assim, numa clara associação entre teorias anticontágio e interesses comerciais, que os governos do norte da Europa, mais liberais e progressistas, avançaram com políticas higienistas abolindo quarentenas e cordões sanitários, enquanto os do sul da Europa, mais conservadores, mantiveram as práticas correspondentes à teoria do contágio. O Porto, uma cidade liberal, mercantil e em pleno desenvolvimento industrial e comercial, reagiu violentamente contra a autoridade da capital, que o obrigou ao cordão sanitário. E os seus jornais, por lealdade política e dependência económica, fizeram uma campanha forte e persistente contra as medidas autoritárias impostas pela capital durante todo o período em que elas duraram.



O Porto foi oficialmente considerado sujo em 1º de Julho de 1855, mas as notícias continuaram a negar a epidemia. Tomaram-se medidas oficiais para combater a cólera, como por exemplo os já referidos hospitais, a visitação das casas de malta e das ilhas (habitações operárias colectivas, cujas condições de vida eram insalubres), e o fornecimento gratuito de medicamentos nas farmácias. Nas vilas pequenas esses serviços foram mais difíceis de fornecer, porque havia falta de médicos e de medicamentos. Os jornais do período forneciam também relatórios diários do movimento dos hospitais e das taxas de mortalidade.



A epidemia no Porto durou oficialmente até Novembro. No dia 5 foi considerado suspeito e já no dia 21, limpo. Houve fogos de artifício e celebrações nas ruas. Mas nas pequenas vilas do norte de Portugal a epidemia continuou e só em Dezembro foram permitidos os primeiros mercados. Em Coimbra, a cidade universitária, a epidemia atacou em meados de Outubro, e as aulas foram encerradas, reabrindo por decreto real apenas em 7 de Janeiro de 1856. A educação e o comércio não foram as únicas actividades a serem afectadas: naquele verão as famílias da elite não se deslocaram aos seus habituais locais de veraneio, e as praias ficaram desertas, o que prejudicou a economia local, originando as habituais queixas e a negação da epidemia. Por exemplo, da Póvoa de Varzim enviaram a seguinte correspondência, em resposta a uma notícia da Gazeta Médica de Lisboa sobre a cólera nessa localidade: "A moléstia ali pode dizer-se extinta... Àquela localidade costuma afluir muita gente para banhos do mar, uma semelhante notícia sem rectificação iria acarretar imensos prejuízos aos seus habitantes, que ansiosamente esperam por esta época para obter os meios de subsistência para o resto do ano..." (O Comércio, 25 set. 1855, p.2).

O Algarve apresentou um cenário muito pior, devido à falta de médicos e de qualquer espécie de assistência. Houve vilas inteiras que ficaram desertas não só pela morte dos seus habitantes, mas também pela sua fuga, provocada pelo terror. Foram necessárias medidas extremas, incluindo o envio de um vapor de guerra com cinco médicos, medicamentos e alimentos para essa província "onde há escassez de géneros e reina a epidemia" (O Comércio, 7 set. 1855, p.2).



Lisboa foi menos afectada nesse ano. Também teve medidas de quarentena, inspecções sanitárias e hospitais especiais, mas a sua situação foi pior nos anos seguintes. No total, em 1855 faleceram 2.306 pessoas no distrito do Porto e no Algarve, 2.270: "O balanço final, no conjunto do território do continente, cifrou-se em 8.718 óbitos, ou seja, cerca de 45% em relação ao total dos atacados pela moléstia" (Cascão, 1993, p.432). Para termos uma ideia da grandeza da taxa de mortalidade, podemos dar o exemplo do hospital de coléricos estabelecidos no Porto, na rua das Águas Férreas, em que "desde o dia 18 de Julho até ao dia 8 de Setembro o movimento foi o seguinte: Entraram 494 coléricos... faleceram 194..." (O Comércio, 10 set. 1855, p.1). Esses valores permitem-nos apurar uma percentagem de mais de 39% de vítimas da epidemia em meio hospitalar. Supomos, segundo também as indicações dos jornais da época, que aconselhavam as pessoas a dirigir-se aos hospitais, que esses números seriam bastante mais elevados no meio doméstico, em que não havia tantos cuidados médicos e assistência profissional:

“Os falecimentos até hoje têm sido quase todos nas pessoas pobres, o que é devido em grande parte ao seu desleixo em requisitarem prontos socorros, logo que aparecem os primeiros sintomas da moléstia. É mui raro falecer um atacado de cólera, a quem se tenha imediatamente acudido com os remédios convenientes. O tratamento no hospital dos coléricos é o mais esmerado e caritativo, e nada falta aos doentes (O Século, 3 nov. 1855, p.2-3).



No ano seguinte a epidemia espalhou-se de Lisboa para a ilha da Madeira, matando mais nove mil pessoas, 3.600 das quais na capital. Ainda em 1856 a febre-amarela, importada do Brasil em Julho, ajudou a aumentar a taxa de mortalidade. Em 1857 quase 10% da população de Lisboa contraiu a doença. Das 17 mil pessoas afectadas, cinco mil pereceram (Cascão, 1993). Além da cólera, da febre-amarela e das já referidas doenças endémicas, houve ainda outras duas grandes epidemias que se destacaram no panorama epidemiológico português: em 1899, a peste bubónica no Porto, com 320 casos e 112 mortes; e em 1918, a gripe pneumónica, que se espalhou por todo o planeta e vitimou entre 59 mil e 135 mil pessoas (as estatísticas divergem) só em Portugal (Ferreira, 1981; Sobral et al., 2009).

Em Chã de Alvares, tal como na freguesia de Alvares, a epidemia só veio a provocar maior número de vítimas em 1856 e 1857,talves explicado pelo isolamento em que esta região se encontrava. Os primeiros casos surgiram apenas  em finais de 1855 nos meses de Setembro a Dezembro, provavelmente fruto do contágio provocado pela migração sazonal para os campos do Alentejo, Estremadura Espanhola e Ribatejo de pessoas locais, que no regresso vieram infectadas pelo vírus da cólera. Em apenas um ano faleceram na povoação mais de 30 pessoas, na sua maioria jovens e vítimas da cólera.

Faleceram na freguesia de Alvares 143 pessoas no ano de 1856,e 105 em 1857,os anos de maior mortandade. Números demasiado elevados para uma freguesia cujo numero de óbitos nos anos anteriores tinha sido:

1853-52 Óbitos

1854-56 Óbitos

1855-81 Óbitos

A lista de vítimas é a seguinte:

28.09.55-Joaquina Barata, Santa Margarida

3.10.55- Recém-nascido filho de Josefa Leonarda , solteira. Casal de cima

3.11.55- Maria Vicenza, esposa de Manuel António -Casal de Baixo

10.11.55-Maria Lima, viúva de Florindo Barata -Casal de Cima

23.11.55- Maria Joaquina, esposa de Manuel Pedro -Carrasqueira

02.12.55 Recém-nascido, filho de Manuel Ferreira Fontes e Maria Lima- Santa Margarida

12.12.55-Maria Joaquina, solteira, filha de José Hipólito e Maria das Neves -Casal de Baixo

18.12.55-Feliciana Maria, viúva de Manuel do do Loureiro - Casal de Baixo

04.01.56-Maria dos Prazeres, menor de idade fila de João Romão e Joaquina Barata - Casal de cima

25.03.56- Joaquim Lopes Ladeira, solteiro, filho de Manuel Lopes Ladeira e Luísa Alves - C.Cima

26.03.56- João, menor, filho de António Fernandes e Maria Rita - Casal d cima

02.03.56- Maria, menor, filha de João Antunes e Maria Garcia -Casal de Cima

09.03.56-Joaquim,menor,filho de Manuel Pedro e Maria Joaquina Carrasqueira

16-03-56-Martinha,menor filha de João Duarte e Vicenza Maria -Santa Margarida

26.03.56- Ana, menor, filha de João Antunes e Maria Garcia –Casal  de Cima

29.03-56- Ana Maria,solteira- Carrasqueira

07.05.56-Justina,menor,filha de Manuel Pedro e Maria Joaquina -Carrasqueira

27.05.56- António, menor, filho de Agostinho António e Joaquina Rodrigues -C.Cima

31.05.56-Maria,menor,filha de João Alves e Maria Ana -Casal de Cima

01.06.56-Justina,menor,filha de Manuel António e Maria JOSEFA -Carrasqueira

29.06.56-Rosa Maria, esposa de JOÃO Pedro - Casal de Cima

31.06.56- Bernarda Maria, viúva de Manuel Lopes- CASAL DE CIMA

09-08-56- Manuel, filho de João das Neves e Benedita Maria -Casal de Cima

15.08.56-Justina,menor,filha de António Francisco e Joaquina Maria -Casal de Baixo

16.08-56- Maria Antão, viúva de José Duarte -Casal de Cima

16.08.56-Anna,filha de José da Fonseca e Joaquina Maria- Casalinho

19.08.56-Antonio Alves Roda, viúvo de Joaquina Maria Casal de CIMA

28.08-56- António Antão, esposo de Luísa Maria - Casal de cima

01.09.56- José, menor, filho de José Miguel e Maria Peralta -Casal de Baixo

03.09.56- António, filho de José Duarte e Maria Antão - Casal de Cima

09.09.56-Antonio.menor,filho de José Miguel e Maria do Rosário (Peralta ) -Casal de Baixo

16.09-56-Manuel,menor,flho de José Antão e Luísa Maria -Casal de Baixo

18.09-56-Joaquim,solteiro,filho de José Barata e Jacinta das Neves -Casal de Baixo

18.09.56-Umbelina,menor,filha de José Antão e Luísa Maria – Casal de Baixo

19.09.56-Anna,menor,filha de Manuel Dias e Ana Maria Casal de Baixo

20.09.56- José. Menor filho de José Tomé e Maria Isabel -Casal de Baixo

20.09.56-Maria,menor,filha de Júlio Dias e Jacinta do Rosário -Casal de Baixo

22.09.56-Luiza Micaela, viúva de João Fernandes -Casal de BAIXO

26.09.56- Abílio, menor, filho de José Miguel e Justina Maria-Casal de BAIXO

19-10.56-Manuel,menor,filho de José da Bernarda e Justina Maria-Casal de Baixo

28.10.56- Augusto, menor, filho de Josefa Maria, solteira -Carrasqueira

30.10.56- Maria da Nazareth , menor ,filha de Joana Florentina ,solteira -Casal de Baixo

19.11.56- Joaquina, menor, filha de António João e Joaquina Maria – Carrasqueira

3.12.56- Maria, menor, filha de António Mota Tavares e Umbelina José de Mattos -Casal de Diogo Vaz

04.12.56- Joaquina Maria, viúva de Aleixo de Carvalho - Casal de Cima

09-12-56- João, solteiro, filho de Manuel Lopes e Maria Barata Covão

30.04.57-Manuel,filho de António Pedro e Maria JOSEFA- Carrasqueira

20.05.57-Manuel Lopes Ladeira, casado com Luísa Alves -Casal de Cima

04.07.57- Joaquim Barata de Mendonça, antigo Escrivão do Concelho de Alvares, viúvo de Antónia Maria – Covão

24.09.57- Recém-nascido, filho de António Romão e Francisca das Neves - Covão

24-11-57- Manuel da Mota Tavares, viúvo de Ana Cândida - Casal de Diogo Vaz



Numa breve análise das vítimas percebe-se que o período de maior mortalidade se verificou no último semestre de 1856,com incidência para o mês de Setembro onde só no Casal de Baixo faleceram dez pessoas, tendo igualmente este o aglomerado da Chã mais fustigado pela epidemia, talvez por ser o lugar mais pobre e insalubre da povoação. Mais de uma centena de pessoas viviam em pouco mais de duas dezenas de habitações em péssimas condições de higiene. Pouca ou nenhuma informação existe sobre as medidas tomadas para controlar os efeitos da Cólera na região, contudo não deve ser difícil de imaginar que alguns lugares tenham ficado interditos e tenham sido proibidas as feiras e festividades. Em 1857 já a Taxa de Mortalidade regressou aos níveis normais no aglomerado chãsense, tendo contudo a epidemia a dizimar vidas em aldeias como Mega Cimeira e Amioso Cimeiro.

De 1855 até meados da década de sessenta do século passado, os hábitos e costumes não seriam muito diferentes. As pessoas conviviam com os animais. Nas lojas e palheiros, faziam-se serões e dormiam pessoas entre as vacas e burros. Nas cortelhas dos currais criava-se o porco. E, ainda, tinham as galinhas que andavam pelas ruas, esgravatando na imundice das valetas ou nos charcos da calçada irregular de seixos. Aos animais fazia-se a «cama» com palha e ramalhos. Amontoava-se o estrume, no rés-do-chão das casas e nos currais. E as pessoas onde faziam as suas «necessidades»? Na mesma estrumeira... Ao longo de décadas, os alunos iam defecar ou urinar aos currais ou contra as paredes das casas próximas da escola.

A mortalidade só diminuiu ao longo desse período graças ao avanços da medicina,mais do que á melhoria das condições de salubridade em que viviam as populações.

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