quarta-feira, 31 de agosto de 2016

As Invasões Francesas: Chã de Alvares em tempo de guerra


 A Guerra Peninsular,também conhecida em Portugal,como as Invasões Francesas e em Espanha como Guerra da Independência Espanhola,ocorreu no inicio do século XX,entre 1807 e 1814,na Peninsula Ibérica,e insere-se nas chamadas Guerras Napoleónicas.
A principio o conflito,envolveu Espanha e França de um lado e Portugal e Reino Unido da Grã Bretanha e Irlanda,do outro.Porém a guerra acabaria por ter repercussões além no espaço europeu e influençiar os movimentos independistas das colonias da América Latina.
Estes conturbados momentos surgiram na sequência de momentos históricos como a Campanha do Rossilhão(1793-1795),quando tropas de Portugal reforçãm as da Espanha integrando a primeira aliança liderada pela Inglaterra contra a França revolucionária.A partir da ascensão de Napoleão Bonaparte (1799),a Espanha alia-se á França para,por meio da invasão e da divisão de Portugal entre estes,atingir indiretamente os interesses comerciais de Inglaterra.
Em Julho de 1807,com os Acordos de Tilsit,abriu-se um novo capitulo no conflito já existente.Em agosto,emquanto Napoleão concentrava as suas tropas em Bayonne para invadir Portugal,os representantes de França e Espanha marcham rumo a Lisboa,para entregar ao Principe Regente D.João,os seus "pedidos":Portugal teria de se juntar a França no bloqueio decretado por este país a Inglaterra,encerrando os seus portos maritimos á navegação britânica,decretando ainda guerra a Inglaterra e expoliar e prender todos os ingleses residentes em territorio nacional.Como aliado de Inglaterra que era o Rei D.João I,optou por manter os laços com aquele país e rejeitar as exigençias de Napolão Bonaparte.
Antes mesmo de saber a decisão do Principe Regente de Portugal,Napoleão assinou o Tratado de Fontainebleau,em que Espanha e França preveem a partilha de Portugal entre si.Essa partilha consistiria na divisão de Portugal no Reino da Lusitânia Setentrional,Entre-Douo-e-Minho,destinado á Rainha da Etrúria,e no Reino dos Algarves,destinado a Manuel Godoy,o Principe da Paz,ministro de Carlos IV,Rei de Espanha.
 Tratado Secreto entre a Espanha e a França assinado em Fontainebleau a 27 de Outubro de 1807 tem o seguinte texto:
Nós Napoleão, pela graça de Deus e da Constituição, Imperador dos Franceses, Rei da Itália e Protector da Confederação do Reno, tendo visto e examinado o tratado, concluído, arranjado e assinado em Fontainebleau, a 27 de Outubro de 1807, pelo general-de-divisão Michel Duroc, Grão-Marechal do Nosso Palácio, grão-cavaleiro da Legião de Honra, etc., em virtude de plenos poderes conferidos por nós para este fim, com D. Eugenio Izquierdo de Ribera y Lezaun, Conselheiro Honorário de Estado e da Guerra de Sua Majestade o Rei de Espanha, o qual também estava munido com plenos poderes pelo seu soberano, o qual tratado é na forma seguinte:
Sua Majestade o Imperador dos Franceses, Rei da Itália e Protector da Confederação do Reno, e Sua Majestade Católica o Rei da Espanha, desejando regular por comum com sentimento o interesse dos dois estados, e determinar a futura condição de Portugal, de maneira que seja consistente com a boa política de ambos os países; tem nomeado para seus ministros plenipotenciários, a saber: Sua Majestade o Imperador dos Franceses, Rei da Itália e Protector da Confederação do Reno, ao general de divisão Michel Duroc, Grão-Marechal do Palácio, grão-cavaleiro da Legião de Honra; e Sua Majestade Católica o Rei da Espanha, a D. Eugénio Izquierdo de Ribera y Lezaun, seu Conselheiro Honorário de Estado e da Guerra, os quais ministros, havendo ambos mutuamente trocado os seus plenos poderes, concordaram no seguinte:
  • Artigo 1. — A província de Entre Douro e Minho, com a cidade do Porto, se trespassará em plena propriedade e soberania para Sua Majestade o Rei da Etrúria, com o título de Rei da Lusitânia Setentrional.
  • Artigo 2. — A província do Alentejo e o reino dos Algarves se trespassarão em plena propriedade e soberania para o Príncipe da Paz, para serem por ele gozados, debaixo do título de Príncipe dos Algarves.
  • Artigo 3. — As províncias da Beira, Trás-os-Montes e Estremadura portuguesa, ficarão por dispor até que haja uma paz, e então se disporá delas segundo as circunstâncias, e segundo o que se concordar entre as duas partes contratantes.
  • Artigo 4. — O Reino da Lusitânia Setentrional será tido pelos descendentes de Sua Majestade o Rei da Etrúria, hereditariamente e conforme as leis da sucessão, estabelecidas na família que ocupa o trono da Espanha.
  • Artigo 5. — O Principado dos Algarves será tido pelos descendentes do Príncipe da Paz hereditariamente e conforme as leis de sucessão estabelecidas na família que ocupa o trono da Espanha.
  • Artigo 6. — Se não houver descendentes ou herdeiros legítimos do Rei da Lusitânia Setentrional ou do Príncipe dos Algarves, se disporá por investidura do Rei de Espanha, de maneira que nunca se unirão debaixo de uma só cabeça, nem se anexarão à coroa de Espanha.
  • Artigo 7. — O Reino da Lusitânia Setentrional e o Principado dos Algarves reconhecerão como protector Sua Majestade Católica o Rei de Espanha, e em nenhum caso os soberanos destes países farão paz ou guerra sem o seu consentimento.
  • Artigo 8. — No caso de que as províncias da Beira, Trás-os-Montes e Estremadura portuguesa, tidas em sequestro, se devolvam na paz geral à Casa de Bragança, em troca de Gibraltar, Trindade e outras colónias, que os ingleses têm conquistado à Espanha e seus aliados, o novo soberano destas províncias terá, relativamente a Sua Majestade Católica o Rei de Espanha, as mesmas obrigações que tem o Rei da Lusitânia Setentrional e o Príncipe dos Algarves, e as terá debaixo das mesmas condições.
  • Artigo 9. — Sua Majestade o Rei da Etrúria, cede o Reino da Etrúria em plena propriedade e soberania a Sua Majestade o Imperador dos Franceses e Rei da Itália.
  • Artigo 10. — Assim que as províncias de Portugal forem definitivamente ocupadas, os diferentes príncipes que as devem possuir nomearão mutuamente comissários para verificar os seus limites naturais.
  • Artigo 11. — Sua Majestade o Imperador dos Franceses e Rei da Itália, garante a Sua Majestade Católica o Rei de Espanha, a posse dos seus domínios no continente da Europa, situados ao sul dos Pirenéus.
  • Artigo 12. — Sua Majestade o Imperador dos Franceses e Rei da Itália obriga-se a reconhecer a Sua Majestade Católica o Rei da Espanha como Imperador das Duas Américas, quando tudo estiver pronto para Sua Majestade assumir este título, que pode ser, ou ao tempo da paz geral, ou o mais tardar três anos depois daquela época.
  • Artigo 13. — As duas altas partes contratantes concordam mutuamente em uma igual divisão das ilhas, colónias e outras possessões ultramarinas de Portugal.
  • Artigo 14. — O presente tratado será tido em segredo. Será ratificado e trocado em Madrid dentro de vinte dias, o mais tardar, da data da sua assinatura.
Dado em Fontainebleau, aos 27 de Outubro de 1807. = Napoleão = O Ministro dos Negócios Estrangeiros, Champagny = O Secretário de Estado, Maret



As tropas de Junot marcharam então rumo a Portugal.As incursões militares de tropas francesas no territorio nacional ocorreram nos anos de 1807-1808,1809 e 1810-1811,sob o comando dos Marechais Junot,Soult e Massena respectivamente.
Apesar das Forças Militares Francesas aconselharem a que não fosse efetuada oposição ás suas tropas ,a Familia Real optou por uma estratégica retirada para o Brasil,salvando assim não só as suas cabeças,mas igualmente a Independencia Nacional.Afinal,se o Rei não caia a Independençia seria sempre mantida.
Por sua vez o povo optou por seguir a opçãp da terra queimada,e o que o Invasor encontrou foi um cenário desolador.
Na 3ª Invasão francesa (comandadas pelo Marechal Massena) em 1810,efetuada por Almeida,estava entre a recpectiva guarnição o regimento de Milicias de Arganil,do qual fazia parte um aforça de Gois e Alvares.
Foi durante a retirada das tropas de Massena ,que vários militares franceses atravessaram a região serrana,e igualmente o antigo Concelho de Alvares,nos dias 14,15 e 16 de Fevereiro de 1811,que terão sido os de maior pavor para as populações locais.Contudo os saques prolongaram se até Abril.
Apesar do trajeto de retirada das tropas não passar diretamente por esta região(o trajeto da retirada era por Miranda do Corvo),a politica de terra queimada,que como já refi foi a palavra de ordem na luta contra o Invasor,provocou a miséria e a fome das tropas,que por necessidade e desespero se dispersaram por todo o território cometendo crimes,saqueando e destruindo tudo á sua passagem.Curiosamente no livro de Obitos dos  registos Paroquias,ficouassente no final da  década de 40 desse mesmo século o falecimento dum antigo soldado,natural de Bayonne,e que faleceu solteiro na freguesis de Alvares.
Segundo fontes da época ,os franceses,mataram na freguesia de Góis :13 homens e 4 mulheres,tendo saqueado ainda diversas igrejas e capelas da Vila de Gois e ainda de Cortecega,Ponte de Sótão,Bordeiro,Luzenda e Alvém.
No Concelho de Alvares ,segundo o relato efetuado pelo Pároco de Alvares João Carneiro, roubaram 634 animais,27 pipas de vinho,4 de Azeite e 861 Alqueires de milho,incendiaram ainda 4 casas em Mega Cimeira, danificaram muitas outras em todo o Concelho.Destruiram parcialmente 5 capelas:Cortes,Santa Margarida,Mega Cimeira,Amioso do Senhor e Alvares.
Foram assasinados José Antunes e Maria Gonçalves das Estevianas e Manuel Boiz Valente em Mega Cimeira.
As povoações junto á Ribeira de Mega terão sido as mais afetadas ,havendo registo ainda da passagem do Invasor em Obrais,Amiosos,Bouça,Cortes e Chã de Alvares
As casas mais ricas da povoação sofreram diversos roubos,nomeadamente a Quinta das Tulhas,onde roubaram vinho,Azeite e cereais e António Rebelo,a casa de José Mota Tavares,no Casal de Diogo Vaz,onde roubaram 54 cabras e 5 galinhas.
Na Casa do Pateo em Casal de Cima,onde vivia Micaela Maria ,viuva de José António Henriques de Mattos e  na casa de Manuel Barata Lima no casal de Santa Margarida,roubaram ainda vários alqueires de pão.
No mesmo registo do Vigário João Carneiro,que data de 16 de Setembro de 1811,consta ainda:"Os mais roubos não relatado não poderam comprehender se em relação,e mais estragos feitos nos interiores das casas não comportão menos daque especificam.vai supra relatado:neste......não perdeu menos de 600 000"

No total no Bispado de Coimbra,apesar de faltarem informações de 27 freguesias é de 2969 assasinatos,144 casas queimadas e 20 povoações queimadas e saqueadas.
No nº510 do Jornal de Arganil pode ler-se uma relação de artrocidades,crimes e estragos que os franceses,comandados por Massena,praticaram no Bispado de Coimbra em 1810-1811
Mortágua (30 Paróquias)-108 assassinatos,47 casas incendiadas em 19 lugares
Coimbra-(9 Paróquias)-14 Assassinatos e 7 casas queimadas
Soure(33 Paróquias)-280 Assassinatos e 14 casa queimadas
Arganil (21 Paróquias)-578 Assassinatos e 122 casas queimadas
Miranda do Corvo (27 Paróquias)-802 Assassinatos ,264 casas queimadas.
Faltando ainda informação de oito paróquias de Arganil e duas de Miranda do Corvo.
assasinados José Antunes e Maria Gonçalves das Estevianas e Manuel Boiz Valente em Mega Cimeira

Fontes:Wikipédia,Herdade de Alvares Forais e a sua História,Arquivo do Municipio de Gois,Jornal de Arganil


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