“As páginas que se seguem
contam a história de uma guerra de que ninguém fala. Não se comemora, não enche
páginas de jornais e, salvo raras, mas boas, exceções, é tratada em meia dúzia
de linhas nos livros de História.” Foi assim que o escritor e Jornalista
Ricardo Marques inicia o seu livro “Os Fantasmas do Rovuma”
A
conquista do Rovuma, é um dos episódios menos conhecidos da História de Portugal,
apesar de ter acontecido num passado não muito distante.
Não só
em território europeu decorreram conflitos militares durante o período da
Primeira Grande Guerra. Os soldados portugueses partiram não só para Brest, mas
igualmente para as províncias Ultramarinas de Angola e Moçambique com a
necessidade de garantir a integridade territorial e fronteiriça de Portugal.
Logo em
1914 partiu uma Expedição Militar para o sul de Angola-Naulila, Quangar e
Lubango- onde de modo a defender esse território das pretensões alemãs de
estender a fronteira da Namíbia para norte.
Contudo
foi em Moçambique ,e sobretudo na fronteira norte do rio Rovuma ,que se
intensificaram os combates e houve maior necessidade de contingente militar,
ainda antes da Alemanha declarar oficialmente a guerra a Portugal em março de 1916.O
primeiro incidente a na fronteira da Tanzânia, naquele tempo colonia Alemã,
ocorreu no dia 25 de agosto de 1914 ,quando o posto fronteiriço de Maziúa ,na fronteira do Rovuma, foi alvo de
ataque militar por parte do exército alemão, resultando na morte do chefe do
posto e no incendio de vária casas. Já desde 1892 com a ocupação alemã do
Quionga que o rio Rovuma se tornou um tumulo para centenas de soldados
portugueses.
De modo
a defender o território, é enviado pouco tempo depois a 11 de setembro desse
mesmo ano uma expedição militar com destino a Moçambique chefiada pelo tenente-coronel
Massano Amorim. Um batalhão, uma bateria e um esquadrão desembarcaram em Porto
Amélia a 1 de novembro com a intenção de reocupar o posto de Quionga, perdido
há décadas para os alemães e igualmente invadir o território da Africa Oriental
Alemã, atual Tanzânia.
Os
reforços chegaram a 7 de novembro, com uma segunda expedição, comandada pelo
Major de Artilharia Moura Mendes.
Os
primeiros confrontos a 27 de maio, conhecido como Combate de Namaca, não correm
dentro do previsto pelas tropas portuguesas, já nessa altura reforçadas por forças
da Guarda Nacional Republicana de Lourenço Marques. O exército alemão enfrentou
de forma violenta a tropa portuguesa.
Foi necessário
enviar uma terceira força expedicionária, comandada pelo General Ferreira Gil,
composta por 3 batalhões de Infantaria,3 baterias de metralhadoras,3 baterias
de artilharia e 1 companhia de engenharia mista e unidades de serviço.
Foi nessa
terceira força expedicionária que integraram vários soldados oriundos de Chã de
Alvares.
Soldados de Chã de Alvares que fizeram parte da Expedição a
Moçambique
Arthur
Duarte- Nascido no
Casal de Baixo a 5 de dezembro de 1893, filho de Manuel Duarte e Ana dos
Prazeres.
Neto
paterno de Manuel Duarte e Justina Maria e Materno de José Tomé e Maria Isabel,
todos residentes naquele lugar.
Assentou
praça no dia 21 de julho de 1913 no Regimento de Infantaria nº 23, sendo
incorporado no 2º Batalhão a 14 de maio de 1914 com o posto de soldado
nº205.Consta na sua ficha de matrícula que sabia ler e escrever e que tinha 156
cm de altura, olhos esverdeados, cabelos escuros e rosto regular.
Concluiu
a Instrução de recruta a 28 de agosto de 1914.Passou ao 9º Batalhão como
soldado nº402 sendo destacado para Moçambique, para onde embarcou no dia 3 de
junho de 1915, desembarcando em Palma a 5 de julho. Tomou parte na Ação da
passagem do Rio Rovuma, que teve lugar na Campanha contra a colónia Alemã da
Africa Oriental, no dia 19 de setembro.
Regressou
á metrópole a 23 de dezembro de 1917, desembarcando em Lisboa a 2 de fevereiro
de 1918.
Faleceu,
ainda solteiro a 11 de outubro de 1918, meses depois do seu regresso de
Moçambique, vítima da Gripe Pneumónica, tinha apenas 24 anos.
Manuel
Dias-Nascido na
Carrasqueira a 10 de Junho de 1892, filho de João Dias e Generosa Maria.
Na
sua ficha de Matrícula consta que sabia ler e escrever, tinha 158 cm de altura,
olhos azuis e rosto oval.
Assentou
praça a 21 de julho de 1913, estando presente no Regimento de Infantaria nº 23
no dia 14 de maio de 1914, onde concluiu a instrução militar a 28 de agosto
desse mesmo ano.
A
25 de Abril de 1916 passou ao 2º batalhão como soldado nº400 da 9ª Companhia.
Enviado para Moçambique, desembarcando em Palma a 5 de julho de 1916. Tomou
parte na Ação da passagem do Rio Rovuma, que teve lugar na Campanha contra a
colónia Alemã da Africa Oriental, no dia 19 de setembro.
Regressou
á metrópole a 28 de junho de 1917.Integrou as forças das Operações no Norte a 9
de fevereiro de 1919.
Regressou
á aldeia para se casar a 27 de setembro de 1919, com Generosa Maria, filha de
Vítor Simões e Justina Maria, do Covão onde fixou residência com a sua esposa.
Ficou
viúvo a 13 de dezembro de 1964 e faleceu na freguesia da Pena, Concelho de
Lisboa, no dia 1 de maio de 1985.
Recebeu
a Medalha Comemorativa da Expedição a Moçambique, com a legenda 1914-1915
Manuel
Hipólito- Nascido da 20
de outubro de 1893, no lugar do Casal de Baixo, era filho de João Hipólito e
Ana Barata. Neto paterno de João Hipólito e Ana Rita do Casal de Cima e materno
de João Romão e Joaquina Barata
Assentou
praça no dia21 de julho de 1913 no Regimento de Infantaria nº 23, sendo
incorporado no 2º Batalhão a 14 de maio de 1914 com o posto de soldado
nº206.Consta na sua ficha de matrícula que era analfabeto e que tinha 162 cm de
altura, olhos esverdeados, cabelos escuros e rosto regular.
Concluiu
a Instrução de recruta a 28 de agosto de 1914.Passou a 3º Batalhão sendo
destacado para Moçambique, para onde embarcou no dia 3 de junho de 1915,
desembarcando em Palma a 5 de julho. Tomou parte na Ação da passagem do Rio
Rovuma, que teve lugar na Campanha contra a colónia Alemã da Africa Oriental,
no dia 19 de setembro.
Regressou
á metrópole a 23 de dezembro de 1917, desembarcando em Lisboa a 2 de fevereiro
de 1918.
Participou
nas Operações do Norte de 9 de fevereiro de 1919.
Recebeu
a Medalha Comemorativa da Expedição a Moçambique, com a legenda 1914-1915
Anos
depois do regresso dos campos de Batalha, em Moçambique, desposou Eulalia
Barata a 22 de setembro de 1922.Foi dos soldados
locais da Grande Guerra um dos últimos a falecer. Morreu em Lisboa a 11 de
agosto de 1984
Joaquim
Miguel- Nasceu no Casal
de Baixo a 27 de junho de 1893, filho de Abílio Miguel e Maria das Dores. Neto
paterno de Manuel Miguel e Justina Maria e materno de José Maria Duarte e
Jacinta das Neves. Foram seus padrinhos, Joaquim Miguel, que lhe deu nome e sua
esposa Maria Justina. Tinha 157 cm, olhos castanhos, cabelos louros, rosto
regular, são as informações disponíveis na Ficha de Matrícula, em que consta
ainda que era analfabeto.
Assentou
praça a 21 de julho de 1913. Alistado no posto de Soldado nº305 na 10ª
Companhia do Regimento de Infantaria nº23, onde se apresentou a 14 de maio de
1914.Pronto da instrução de recruta em 28 de agosto de 1914, passou ao
Regimento de Infantaria nº 15 com o nº 377 de soldado, da 10ª Companhia. Foi
punido, a 8 de junho de 1915, com 20 dias de prisão disciplinar por ter
arremessado ao chão a ração de carne que lhe fora entregue.
Foi
destacado para Angola a 3 de dezembro, desembarcando em Moçâmedes no dia 26 de
dezembro. Regressou a Lisboa no dia 3 de fevereiro de 1916.
Passou
de novo ao RI 23, tendo se domiciliado na freguesia de Alvares. Chamado a
apresentar-se a 26 de abril de 1916 é destacado para Moçambique a 3 de junho,
desembarcando em Palma a 5 de julho.
Faleceu
a 10 de abril de 1918, tendo sido sepultado no cemitério de Palma.
Foi
punido com 20 dias de prisão disciplinar por ter arremessado ao chão a ração de
carna que lhe fora entregue.
António
Loureiro- Nascido no lugar
do Casal de Baixo a 4 de agosto de 1895, filho de Joaquim Loureiro Júnior e
Maria Josefa, já falecida á data da sua Incorporação no RI23 de Coimbra, onde
se apresentou a 12 de setembro de 1917, como soldado nº593 da 7ª Companhia.
Pela sua ficha de matrícula sabemos que tinha 158 cm de altura e era
analfabeto.
Partiu
para expedição em Moçambique na 5ªCompanhia como soldado nº305.Embarcou a 7 de
março de 1918, tendo pisado solo africano a 17 de abril. Ali cumpriu serviço
até ao seu regresso á metrópole a 17 de junho de 1919.
Casou
com Maria da Encarnação a 11 de novembro de 1919, no Posto de Registo Civil de
Alvares. Faleceu na freguesia de Alvares no dia 15 de janeiro de 1944
Joaquim
Bernardo-Nascido no Covão
a 21 de abril de 1893, filho de António Bernardo e Maria Emília, ali moradores.
Neto paterno de João Bernardo e Joaquina Rita e materno de Maria Claudina.
Sapateiro
de profissão, era alfabetizado e tinha 162 cm, olhos e cabelos negros e rosto
regular.
Assentou
praça a 21 de julho de 1913, sendo incorporado como soldado nº168 da 5ª
Companhia, ao 2º Batalhão do Regimento de Infantaria nº 23 onde se apresentou a
14 de janeiro de 1914.
Pronto
da instrução a 30 de abril de 1914.Destacado para Moçambique para onde embarcou
no dia 3 de junho de 1915, desembarcando em Palma a 5 de julho.
Regressou
a Lisboa no dia 23 de dezembro de 1917, desembarcando a 2 de fevereiro de 1918.
Participou nas Operações do Norte de 9 de fevereiro de 1919.
Baixa
ao serviço no dia 6 de abril de 1932, por ser julgado incapaz para todo o
serviço pela Junta Hospitalar de Inspeção reunida no Hospital Militar Regional
nº 2, em sessão de 21 de março.
Casou
com Generosa da Conceição no dia 18 de setembro de 1922.
Faleceu
no Covão a 16 de janeiro de 1940, vítima de tuberculose óssea.
Recebeu
a Medalha Comemorativa da Expedição a Moçambique, com a legenda 1914-1915
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