O longo dos tempos, várias foram as epidemias que assolaram
o mundo, dizimando milhares de vidas.Com níveis de mortandade maior ou menor, foram
sempre as responsáveis pelas altas taxas de mortalidade existente. Nos últimos
duzentos anos, épocas houve de maior taxa de mortalidade, como as que ocorreram
em 1855, 1899 e 1918 na região serrana, onde a cólera, a peste bubónica, o tifo
exantemático, a gripe pneumónica e a varíola atacaram e mataram percentagens
elevadas da população.Essa mortandade extraordinária é não só explicada
por epidemias, mas igualmente por anos de maior carência alimentar.
A epidemia de 1853-56,matou milhões de pessoas em todo o mundo,
tendo vitimado mais pessoas que a Gripe Espanhola, em 1918.
Depois de se espalhar por toda a Europa e pelo
Mediterrâneo, Canadá, Estados Unidos e as ilhas das Caraíbas em 1853, essa
epidemia de cólera chegou a Portugal em Dezembro pela fronteira norte, onde se
registaram dois casos. Em Maio de 1854, começaram a morrer pessoas, e medidas
de quarentenas foram postas em prática. Nessa fase ainda se negava a epidemia
em Portugal. Os jornais portugueses transcreviam diariamente os editais do
conselho de saúde, que classificavam os portos estrangeiros como limpos,
suspeitos ou sujos, consoante o grau de infecção de cólera ou febre-amarela, e
com implicações directas em medidas de quarentena, imediatamente contestadas
pela limitação à liberdade do comércio. De facto, os países afectados ficaram
praticamente paralisados nesses anos devido ao número de mortes e à imposição
das medidas sanitárias. Nos anos seguintes, as duas epidemias espalharam-se
para o Brasil, onde, até Dezembro de 1855, vitimaram, só no Rio de Janeiro, 3.540
pessoas (O Comércio, 20 dez. 1855, p.2).
Em simultâneo, outras doenças afectaram o norte de Portugal
nesse ano de 1854: a raiva, o sarampo e o tifo, e as febres intermitentes
(malária) junto aos campos de arroz, nessa época a provocar grandes danos especialmente
no termo de Leiria. Em Setembro, as cidades portuguesas de fronteira começaram
a tomar medidas preventivas para evitar o contágio de Espanha. E os jornais
começaram a alertar as autoridades sanitárias para limpar as cidades e tomar as
medidas aconselhadas pela higiene. Em Janeiro de 1855, a Andaluzia (no sul de
Espanha) e a Galiza (ao norte) foram consideradas sujas ou infectadas, o que
constituía um perigo directo para as fronteiras portuguesas. Contudo, a cólera
acabou por penetrar Portugal pelo rio Douro, infectando com gravidade as vilas
ribeirinhas a partir de Maio. Imediatamente o Porto foi isolado: nenhum barco
podia chegar pelo rio à cidade sem passar pelo controlo montado uns quilómetros
antes de cumprir a quarentena. Os protestos começaram logo nos jornais
portuenses contra esse "verdadeiro atentado à liberdade do comércio"
e contra as "medidas ineptas, que muito prejudicam o público, e
especialmente a classe comercial" (O Comércio, 16 maio 1855, p.2), e que
ainda por cima permitiam a passagem das pessoas por via terrestre.
Ao mesmo tempo que o Porto se preparava para a invasão da
epidemia, montando hospitais especiais, distribuindo panfletos explicativos das
medidas de higiene e ocupando as meninas da sociedade com os bordados para os lençóis
e as roupas para os doentes, a discussão nos jornais sobre o tema do contágio e
da verdadeira eficácia das medidas de quarentena chegava ao rubro (Martins et
al., 1997). Especialmente quando as feiras e os mercados foram proibidos, em
Junho de 1855; considerando que essa era a base da actividade económica da
região, os produtores poderiam ir à falência se não colocassem os seus
produtos, o que constituía "uma calamidade superior à transmissão do mal,
porque o mal resultante é muito maior aumentando a miséria" (O Comércio, 1
ago. 1855, p.1).
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Às medidas sanitárias impostas pelas autoridades, que
proibiam a concentração e a circulação de pessoas e bens, os jornais
contrapunham com a negação do contágio, o que evidenciava a inutilidade das
referidas medidas: "Ora está-nos parecendo que se o cólera fosse
contagioso, como a peste, a sarna, ou a lepra, pelo menos o teria agarrado o
snr. delegado de saúde, que tanto contacto e comércio tem tido com gente vinda
do Douro..." (O Comércio, 21 jun. 1855, p.2). Para sustentar a sua
posição, os jornais forneciam abundantes exemplos dos países 'mais avançados'
do norte da Europa, que não tinham adoptado esse tipo de medidas (Baldwin,
2005) e com citações e artigos completos de publicações científicas
internacionais. Por exemplo, O Comércio transcreveu um artigo do doutor H.
Chomet, publicado no Jornal do Commercio do Rio de Janeiro em 4 de Setembro de
1855, que pretendia tranquilizar as pessoas atemorizadas pela ideia do contágio
da moléstia. ... Depois de uma vigorosa observação, experiência fatal e
discussão séria, todos os povos mais cultos da Europa concordaram em considerar
o cólera como não contagioso. ... Vejamos pois algumas provas, observações e
experiências. Nas doenças verdadeiramente contagiosas, tais como a sífilis,
bexigas, hidrofobia, vacínio, etc., acha-se sempre uma substância orgânica
secretada durante a enfermidade, a qual inoculada produzirá infalivelmente a
mesma enfermidade. No cólera morbus nada disso se observa. Os sintomas são os
de um verdadeiro envenenamento por agente imponderável espalhado nos ares,
produzindo a aniquilação das forças vitais, diminuição ou supressão das funções
principais, e seguido de uma reacção violenta, porém saudável, quando o
princípio tóxico é repelido da economia. ... A rapidez da difusão da epidemia
deve afastar ainda a ideia do seu contágio... sem que seja possível admitir a
transmissão dos miasmas emanados do corpo dos enfermos (O Comércio, 13 out.
1855, p.1-2).
Na mesma linha, as medidas higiénicas preventivas eram
consideradas essenciais, uma vez que a verdadeira causa da doença residia,
segundo os redatores, em comportamentos desviantes e na falta de cuidados.
Nessa fase abundaram os artigos desenvolvidos com conselhos de higiene para
limpeza das casas e das ruas e os anúncios de livros de medicina especializados
em cólera, incluindo os tratados homeopáticos, amplamente divulgados e
anunciados nas páginas dos jornais.
Essa discussão tão presente nos jornais reflectia a
tendência da época, que dividia os defensores da teoria do contágio e os seus
opositores. Enquanto, durante séculos, o contágio das doenças fora defendido, o
século XIX viu surgir uma nova geração de cientistas que o negaram, baseando-se
na ineficácia das quarentenas e dos cordões sanitários (especialmente na altura
da epidemia de cólera de 1832), remetendo-o para o domínio do fantástico,
absurdo e infantil. Baseados em experiências várias, incluindo no seu próprio
corpo, e imbuídos do espírito liberal da época, os cientistas defensores do
'anticontagionismo' lutaram pela liberdade do indivíduo e do comércio, contra o
despotismo e a reação (Ackerknecht, 1948). Verificou-se assim, numa clara
associação entre teorias anticontágio e interesses comerciais, que os governos
do norte da Europa, mais liberais e progressistas, avançaram com políticas
higienistas abolindo quarentenas e cordões sanitários, enquanto os do sul da
Europa, mais conservadores, mantiveram as práticas correspondentes à teoria do
contágio. O Porto, uma cidade liberal, mercantil e em pleno desenvolvimento
industrial e comercial, reagiu violentamente contra a autoridade da capital,
que o obrigou ao cordão sanitário. E os seus jornais, por lealdade política e
dependência económica, fizeram uma campanha forte e persistente contra as
medidas autoritárias impostas pela capital durante todo o período em que elas
duraram.
O Porto foi oficialmente considerado sujo em 1º de Julho de
1855, mas as notícias continuaram a negar a epidemia. Tomaram-se medidas
oficiais para combater a cólera, como por exemplo os já referidos hospitais, a
visitação das casas de malta e das ilhas (habitações operárias colectivas,
cujas condições de vida eram insalubres), e o fornecimento gratuito de
medicamentos nas farmácias. Nas vilas pequenas esses serviços foram mais difíceis
de fornecer, porque havia falta de médicos e de medicamentos. Os jornais do
período forneciam também relatórios diários do movimento dos hospitais e das
taxas de mortalidade.
A epidemia no Porto durou oficialmente até Novembro. No dia
5 foi considerado suspeito e já no dia 21, limpo. Houve fogos de artifício e
celebrações nas ruas. Mas nas pequenas vilas do norte de Portugal a epidemia
continuou e só em Dezembro foram permitidos os primeiros mercados. Em Coimbra,
a cidade universitária, a epidemia atacou em meados de Outubro, e as aulas
foram encerradas, reabrindo por decreto real apenas em 7 de Janeiro de 1856. A
educação e o comércio não foram as únicas actividades a serem afectadas:
naquele verão as famílias da elite não se deslocaram aos seus habituais locais
de veraneio, e as praias ficaram desertas, o que prejudicou a economia local,
originando as habituais queixas e a negação da epidemia. Por exemplo, da Póvoa
de Varzim enviaram a seguinte correspondência, em resposta a uma notícia da
Gazeta Médica de Lisboa sobre a cólera nessa localidade: "A moléstia ali
pode dizer-se extinta... Àquela localidade costuma afluir muita gente para
banhos do mar, uma semelhante notícia sem rectificação iria acarretar imensos
prejuízos aos seus habitantes, que ansiosamente esperam por esta época para
obter os meios de subsistência para o resto do ano..." (O Comércio, 25
set. 1855, p.2).
O Algarve apresentou um cenário muito pior, devido à falta
de médicos e de qualquer espécie de assistência. Houve vilas inteiras que ficaram
desertas não só pela morte dos seus habitantes, mas também pela sua fuga,
provocada pelo terror. Foram necessárias medidas extremas, incluindo o envio de
um vapor de guerra com cinco médicos, medicamentos e alimentos para essa
província "onde há escassez de géneros e reina a epidemia" (O
Comércio, 7 set. 1855, p.2).
Lisboa foi menos afectada nesse ano. Também teve medidas de
quarentena, inspecções sanitárias e hospitais especiais, mas a sua situação foi
pior nos anos seguintes. No total, em 1855 faleceram 2.306 pessoas no distrito
do Porto e no Algarve, 2.270: "O balanço final, no conjunto do território
do continente, cifrou-se em 8.718 óbitos, ou seja, cerca de 45% em relação ao
total dos atacados pela moléstia" (Cascão, 1993, p.432). Para termos uma
ideia da grandeza da taxa de mortalidade, podemos dar o exemplo do hospital de coléricos
estabelecidos no Porto, na rua das Águas Férreas, em que "desde o dia 18
de Julho até ao dia 8 de Setembro o movimento foi o seguinte: Entraram 494 coléricos...
faleceram 194..." (O Comércio, 10 set. 1855, p.1). Esses valores
permitem-nos apurar uma percentagem de mais de 39% de vítimas da epidemia em
meio hospitalar. Supomos, segundo também as indicações dos jornais da época,
que aconselhavam as pessoas a dirigir-se aos hospitais, que esses números
seriam bastante mais elevados no meio doméstico, em que não havia tantos
cuidados médicos e assistência profissional:
“Os falecimentos até hoje têm sido quase todos nas pessoas
pobres, o que é devido em grande parte ao seu desleixo em requisitarem prontos
socorros, logo que aparecem os primeiros sintomas da moléstia. É mui raro
falecer um atacado de cólera, a quem se tenha imediatamente acudido com os
remédios convenientes. O tratamento no hospital dos coléricos é o mais esmerado
e caritativo, e nada falta aos doentes (O Século, 3 nov. 1855, p.2-3).
No ano seguinte a epidemia espalhou-se de Lisboa para a
ilha da Madeira, matando mais nove mil pessoas, 3.600 das quais na capital.
Ainda em 1856 a febre-amarela, importada do Brasil em Julho, ajudou a aumentar
a taxa de mortalidade. Em 1857 quase 10% da população de Lisboa contraiu a
doença. Das 17 mil pessoas afectadas, cinco mil pereceram (Cascão, 1993). Além da
cólera, da febre-amarela e das já referidas doenças endémicas, houve ainda
outras duas grandes epidemias que se destacaram no panorama epidemiológico
português: em 1899, a peste bubónica no Porto, com 320 casos e 112 mortes; e em
1918, a gripe pneumónica, que se espalhou por todo o planeta e vitimou entre 59
mil e 135 mil pessoas (as estatísticas divergem) só em Portugal (Ferreira,
1981; Sobral et al., 2009).
Em Chã de Alvares, tal como na freguesia de Alvares, a epidemia
só veio a provocar maior número de vítimas em 1856 e 1857,talves explicado pelo
isolamento em que esta região se encontrava. Os primeiros casos surgiram apenas
em finais de 1855 nos meses de Setembro
a Dezembro, provavelmente fruto do contágio provocado pela migração sazonal
para os campos do Alentejo, Estremadura Espanhola e Ribatejo de pessoas locais,
que no regresso vieram infectadas pelo vírus da cólera. Em apenas um ano
faleceram na povoação mais de 30 pessoas, na sua maioria jovens e vítimas da cólera.
Faleceram na freguesia de Alvares 143 pessoas no ano de
1856,e 105 em 1857,os anos de maior mortandade. Números demasiado elevados para
uma freguesia cujo numero de óbitos nos anos anteriores tinha sido:
1853-52 Óbitos
1854-56 Óbitos
1855-81 Óbitos
A lista de vítimas é a seguinte:
28.09.55-Joaquina Barata, Santa Margarida
3.10.55- Recém-nascido filho de Josefa Leonarda , solteira.
Casal de cima
3.11.55- Maria Vicenza, esposa de Manuel António -Casal de
Baixo
10.11.55-Maria Lima, viúva de Florindo Barata -Casal de Cima
23.11.55- Maria Joaquina, esposa de Manuel Pedro -Carrasqueira
02.12.55 Recém-nascido, filho de Manuel Ferreira Fontes e
Maria Lima- Santa Margarida
12.12.55-Maria Joaquina, solteira, filha de José Hipólito e
Maria das Neves -Casal de Baixo
18.12.55-Feliciana Maria, viúva de Manuel do do Loureiro -
Casal de Baixo
04.01.56-Maria dos Prazeres, menor de idade fila de João
Romão e Joaquina Barata - Casal de cima
25.03.56- Joaquim Lopes Ladeira, solteiro, filho de Manuel
Lopes Ladeira e Luísa Alves - C.Cima
26.03.56- João, menor, filho de António Fernandes e Maria Rita
- Casal d cima
02.03.56- Maria, menor, filha de João Antunes e Maria
Garcia -Casal de Cima
09.03.56-Joaquim,menor,filho de Manuel Pedro e Maria Joaquina
Carrasqueira
16-03-56-Martinha,menor filha de João Duarte e Vicenza
Maria -Santa Margarida
26.03.56- Ana, menor, filha de João Antunes e Maria Garcia –Casal
de Cima
29.03-56- Ana Maria,solteira- Carrasqueira
07.05.56-Justina,menor,filha de Manuel Pedro e Maria
Joaquina -Carrasqueira
27.05.56- António, menor, filho de Agostinho António e
Joaquina Rodrigues -C.Cima
31.05.56-Maria,menor,filha de João Alves e Maria Ana -Casal
de Cima
01.06.56-Justina,menor,filha de Manuel António e Maria
JOSEFA -Carrasqueira
29.06.56-Rosa Maria, esposa de JOÃO Pedro - Casal de Cima
31.06.56- Bernarda Maria, viúva de Manuel Lopes- CASAL DE
CIMA
09-08-56- Manuel, filho de João das Neves e Benedita Maria -Casal
de Cima
15.08.56-Justina,menor,filha de António Francisco e
Joaquina Maria -Casal de Baixo
16.08-56- Maria Antão, viúva de José Duarte -Casal de Cima
16.08.56-Anna,filha de José da Fonseca e Joaquina Maria-
Casalinho
19.08.56-Antonio Alves Roda, viúvo de Joaquina Maria Casal
de CIMA
28.08-56- António Antão, esposo de Luísa Maria - Casal de
cima
01.09.56- José, menor, filho de José Miguel e Maria Peralta
-Casal de Baixo
03.09.56- António, filho de José Duarte e Maria Antão -
Casal de Cima
09.09.56-Antonio.menor,filho de José Miguel e Maria do Rosário
(Peralta ) -Casal de Baixo
16.09-56-Manuel,menor,flho de José Antão e Luísa Maria -Casal
de Baixo
18.09-56-Joaquim,solteiro,filho de José Barata e Jacinta
das Neves -Casal de Baixo
18.09.56-Umbelina,menor,filha de José Antão e Luísa Maria – Casal
de Baixo
19.09.56-Anna,menor,filha de Manuel Dias e Ana Maria Casal
de Baixo
20.09.56- José. Menor filho de José Tomé e Maria Isabel -Casal
de Baixo
20.09.56-Maria,menor,filha de Júlio Dias e Jacinta do Rosário
-Casal de Baixo
22.09.56-Luiza Micaela, viúva de João Fernandes -Casal de
BAIXO
26.09.56- Abílio, menor, filho de José Miguel e Justina
Maria-Casal de BAIXO
19-10.56-Manuel,menor,filho de José da Bernarda e Justina
Maria-Casal de Baixo
28.10.56- Augusto, menor, filho de Josefa Maria, solteira -Carrasqueira
30.10.56- Maria da Nazareth , menor ,filha de Joana
Florentina ,solteira -Casal de Baixo
19.11.56- Joaquina, menor, filha de António João e Joaquina
Maria – Carrasqueira
3.12.56- Maria, menor, filha de António Mota Tavares e
Umbelina José de Mattos -Casal de Diogo Vaz
04.12.56- Joaquina Maria, viúva de Aleixo de Carvalho -
Casal de Cima
09-12-56- João, solteiro, filho de Manuel Lopes e Maria Barata
Covão
30.04.57-Manuel,filho de António Pedro e Maria JOSEFA-
Carrasqueira
20.05.57-Manuel Lopes Ladeira, casado com Luísa Alves -Casal
de Cima
04.07.57- Joaquim Barata de Mendonça, antigo Escrivão do
Concelho de Alvares, viúvo de Antónia Maria – Covão
24.09.57- Recém-nascido, filho de António Romão e Francisca
das Neves - Covão
24-11-57- Manuel da Mota Tavares, viúvo de Ana Cândida - Casal
de Diogo Vaz
Numa breve análise das vítimas percebe-se que o período de
maior mortalidade se verificou no último semestre de 1856,com incidência para o
mês de Setembro onde só no Casal de Baixo faleceram dez pessoas, tendo
igualmente este o aglomerado da Chã mais fustigado pela epidemia, talvez por
ser o lugar mais pobre e insalubre da povoação. Mais de uma centena de pessoas
viviam em pouco mais de duas dezenas de habitações em péssimas condições de
higiene. Pouca ou nenhuma informação existe sobre as medidas tomadas para
controlar os efeitos da Cólera na região, contudo não deve ser difícil de
imaginar que alguns lugares tenham ficado interditos e tenham sido proibidas as
feiras e festividades. Em 1857 já a Taxa de Mortalidade regressou aos níveis
normais no aglomerado chãsense, tendo contudo a epidemia a dizimar vidas em
aldeias como Mega Cimeira e Amioso Cimeiro.
De 1855 até meados da década de sessenta do século passado,
os hábitos e costumes não seriam muito diferentes. As pessoas conviviam com os
animais. Nas lojas e palheiros, faziam-se serões e dormiam pessoas entre as
vacas e burros. Nas cortelhas dos currais criava-se o porco. E, ainda, tinham
as galinhas que andavam pelas ruas, esgravatando na imundice das valetas ou nos
charcos da calçada irregular de seixos. Aos animais fazia-se a «cama» com palha
e ramalhos. Amontoava-se o estrume, no rés-do-chão das casas e nos currais. E
as pessoas onde faziam as suas «necessidades»? Na mesma estrumeira... Ao longo de
décadas, os alunos iam defecar ou urinar aos currais ou contra as paredes das
casas próximas da escola.
A mortalidade só diminuiu ao longo desse período graças ao
avanços da medicina,mais do que á melhoria das condições de salubridade em que viviam
as populações.