domingo, 30 de outubro de 2016

Uma terra de padres sem capela, ou a história do falso milagre da Santa…







Como é do conhecimento de todos, existiu junto da actual capela de Santa Margarida, uma outra bem antiga, existente já em 1721.No entanto em 1870,fruto da incúria dos homens essa mesma capela, entrou em derrocada, tendo sido cancelados durante longos anos os serviços religiosos que até então ali se efectuavam. Chã de alvares era assim uma terra, que tinha sido berço de três padres, todos eles ainda vivos: Padre José Maria Henriques de Mattos, Padre António Maria Lopes Froes e ainda Manuel da Costa Vasconcellos e Cunha, e que curiosamente não tinha nenhuma Capela



Da derrocada conseguiu-se no entanto salvar a velha imagem de Santa Margarida, que acabaria por ser entregue aos cuidados de José Barata de Mendonça, do Covão,e ai permaneceu a imagem durante vários anos, até que em 1888 duas importantes figuras locais, José Maria Lopes Froes e Francisco Rebelo da Mota Arnault, decidiram a erguer dos escombros a velha capela,que por esses se encontrava já coberta por um vasto silvedo, após mais de uma década de abandono,alvo da incuria dos homens.

Inicia-se então uma luta politica/religiosa na povoação entre Progressistas e Conservadores.

Por essa mesma altura o Padre José Maria Henriques de Mattos, decidiu também ele erguer uma outra capela no Rebolo (Casal de Baixo), por ser aquele um lugar mais central para todos os aglomerados que constituem a povoação. Se assim o pensou mais rápido o fez, iniciando assim as obras de modo a concluir o mais rapidamente possível a sua vontade.



.A capela do Rebolo



Foram obtidos, por intermédio do Sr.º Oliveira Matos, ilustre Deputado da Nação,300§00 Reis, do Governo. A esta verba ainda foram adicionados 50§00 Reis concedidos do próprio bolso do Sr. Oliveira Matos, por influência do Padre José Maria, e em prole da “Guerra” entre Progressistas e Conservadores na Freguesia de Alvares.

Concluídas as obras, iniciou se então uma dura disputa pela imagem da Santa. Certo dia o Padre José Maria foi buscar por suas mãos a imagem da santa a casa de José Barata de Mendonça, que apesar de contrariado acabou por aceitar. A transferência da imagem para a nova capela foi mal aceite pelos locais, pois a Santa pertencia por direito próprio á antiga capela de Santa Margarida, nessa altura já reconstruída. Inteligente e astuto José Barata Mendonça, decide iludir os desejos pessoais do Padre e apoderando-se da chave da capela do Rebolo retira a imagem levando-a para a Capela de Santa Margarida. Pela manha do dia seguinte os populares deparam se com a imagem da Santa na Capela de origem e logo em uníssono se gritou milagre. Para todos era o sinal inequívoco que a Santa rejeitava a nova Capela e regressava á sua antiga “casa”.

Obviamente que José Mendonça, nunca declarou ter sido ele o autor de tal façanha e perante tal milagre a capela do Rebolo foi votada ao abandono.



Ruinas da Capela do Rebolo





 A Capela do Rebolo foi construída, no entanto nunca foi consagrada acabando por se deteriorar com o correr dos anos. Em 1902 já com danos consideráveis no Telhado, pensou se utiliza-la para Edifício Escolar, o que como se sabe não aconteceu.

Com o falecimento do Padre José Henriques de Matos, no inicio da década de trinta a capela entra definitivamente em derrocada.



No que diz respeito á capela de Santa Margarida a bênção da Capela após a reconstrução, foi efetuada em 12-08-1888,pelo pároco da freguesia Padre Joaquim José da Veiga, após licença do Bispo de Coimbra D. Manuel Correia de Bastos Pina.

Da Capela do Rebolo, apenas restam as grossas paredes com que fora edificada e no que diz respeito á Capela de Santa Margarida continuou por largos anos a sua missão religiosa, sendo por vária vezes alvo de pequenos consertos, até ser substituída pela atual.


sábado, 29 de outubro de 2016

Os Padres oriundos de Chã de Alvares





Chã de Alvares, era apesar de isolada do mundo, um retrato fiel do país que tínhamos, durante os séculos XVI e XIX.

O peso económico e social da nobreza e clero era gigantesco, principalmente deste último. O numero de conventos em todo o país passa de 390 em 1584,para uns 398 em 1627e 477 no ano de 1730.Por essa altura um em cada 36 habitantes pertencia ao clero, e no que diz respeito a receitas nacionais,1/3 era do Clero,1/3da Nobreza e 1/3do Estado. Para o povo como sempre ficavam pouco mais que migalhas.

Esta importância do clero enquadrava-se na importância cada vez maior das Ordens Religiosas, da influência da Inquisição e da exacerbação das ideias religiosas.

Não é por isso estranho que durante anos se tenham Ordenado Padres inúmeros filhos da terra. E tendo em conta o que custava uma ordenação podemos avaliar a capacidade económica de algumas famílias residentes em Chã de Alvares. Sendo assim e  invariavelmente todos os sacerdotes descendiam das famílias abastadas, e nunca do povo.
Estes são alguns dos padres oriundos da povoação:



António Tavares-Vigário em Oleiros, nasceu na Quinta das Tulhas, neto dos seus fundadores

Paulo Tavares-Irmão de António Tavares, foi Vigário na Sertã, onde faleceu em 1732.Deixou bastardia.

António Rebelo- Batizado em 1696,fez inquerições de gênere em 1714 e escritura de património em 1718.Era filho de Natália Henriques e António Rebelo Tavares. Seu pai foi Escudeiro, tendo ido á India, onde foi acrescentado a Cavaleiro Real.



Manuel Barata Lima-Oriundo de Santa Margarida, terra natal de sua mãe Joana Maria Barata, onde habitou toda a sua vida. Foi seu pai João Anselmo da Fonseca Barata do Soutelinho, irmão do Morgado da Quinta de Nossa Senhora da Memória dos Padrões Manuel José da Fonseca Barata. Faleceu a 30 de Julho de 1836,em sua casa no lugar de Santa Margarida. Foi padre Coadjutor na paróquia de Alvares durante largos anos.
Foi um dos lesados pelas invasões francesas ,aparecendo o seu nome  na lista de «vitimas» de saque das tropas em fuga.

Joaquim da Mota Arnault da Fonseca-nascido entre 1772-1775,nas Tulhas filho de António Rebelo da Mota e Joaquina Fonseca Arnault


José António Henriques de Matos-Nascido em 1785 nas Tulhas, ordenado em 1825 e Coadjutor da Freguesia de Alvares em 1839 e Capelão do Regimento de Milícias de Arganil. Faleceu em 1877 em Chã de Alvares. Bem característico da época em que viveu, o Padre José António foi um pároco com fortes convicções e atividade politica. Desconhece-se se seria um Liberal ou um Absolutista, o que ficou na memória sendo contado pela família ,é que as suas convicções e opções politicas resultaram numa tentativa de assassinato.
Um dia quando o Padre José António se preparava para iniciar uma refeição a sua criada ainda jovem, entra na sala e bruscamente tira-lhe o prato da frente impedindo que ele coma o conteúdo do mesmo, inutilizando-o. Perante a atitude desesperada da criada o Padre instiga a rapariga a contar o motivo da sua atitude. A jovem conta-lhe então que fora coagida a envenenar a comida do Pároco e assim provocar a sua morte. Em pânico ,apavorada com a consequência dos seus atos a jovem recusou.se a divulgar o nome dos mandantes .
Aproveitando a sua condição de Padre ,José António ,sugeres-lhe que confesse o seu pecado, e conte assim que lhe forneceu o veneno mortífero.
Protegida pelo segredo de confissão a jovem acabar por relatar a verdade dos factos. Sendo perdoada pelo pecado a jovem perdeu o seu posto de criada de servir do vigário ,mas foi durante toda a vida protegida do mesmo, que a levou a servir para o Casal de Cima na Casa do Pátio, onde vivia o seu irmão António Henriques de Matos e a esposa Josefa Gonçalves.
Dias depois do acontecimento o Padre José António divulgou um Edital destinado a dar conhecimento publico da tentativa de assassinato que foi alvo.
A criada morreu já idosa na Casa da Morgada, tendo sido ama de muitos que ali nasceram.

Manuel da Costa Vasconcelos e Cunha- Filho de Vítor Rebelo da Mota e Maria de Jesus Rita de Vasconcelos e Cunha, proprietários da Quinta das Tulhas.

Nasceu  a 26 de Dezembro de  1821e foi batizado com o nome do padrinho, seu tio paterno o Padre Manuel da Costa de Vasconcelos, Arcipreste que lhe custeou os estudos e com quem viveu desde muito novo.

Faleceu em Arganil, no ano de 1908 com 86 anos, era então Reitor de Arganil desde 1892.Fora durante o período entre 1858-1892,Prior de Nogueira do Cravo e de Pombeiro. Pediu que o seu corpo fosse após a sua morte colocado no chão da igreja tendo apenas um pano preto sobre o pavimento. Pediu para distribuir 300 litros de Milho e a quantia de 10.000§oo pelos pobres. Foram seus herdeiros universais ,os sobrinhos: Jaime Rebello da Costa Arnault, de Alvares, Francisco Rebelo Arnault de Chã de Alvares e Manuel Baeta Rebelo do Amioso.
O seu tio dá nome a um largo em Arganil. Lg. Padre Manuel da Costa Vasconcelos Delgado


José Maria Henriques de Matos-Descendente de uma das mais abastadas famílias da região, foi possuidor de abastada fortuna. Foi pároco de Pessegueiro e  posteriormente Coadjutor na Freguesia de Alvares de 1891 a 1904.Teve toda a sua vida ligado á politica. Construiu a Capela do Rebolo no Casal de Baixo. Era dono de varias propriedades, tal como a Quinta do Porto da Telhada e da Azenha. Vivia no Casal de Diogo Vaz, Junto a Santa Margarida, na mais abastada casa de Chã de Alvares. Deixou bastardia...


António Lopes Fróis-Natural de Santa Margarida, onde nasceu em finais do século XIX, pertencia a uma família abastada da localidade, sendo filho de João Lopes Fróis e sua esposa Ana Cândida. Na adolescência foi enviado para Coimbra onde estudou e se formou sacerdote. Na década de vinte foi paroquiar a freguesia de  Vilarinho, na Lousã, onde veio faleceu. Da sua irmandade foi o ultimo a falecer ,sendo que não há descendentes da família Frois em Chã de Alvares, tendo todos falecido sem descendência.

Amílcar Aleixo-Nasceu em Chã de Alvares em 21 de Janeiro de 1931,tendo falecido em Coimbra no dia 15 de Março de 2011.Foi ordenado sacerdote em 15 de Agosto de 1957 na Sé Nova De Coimbra, e celebrado a Missa Nova no dia 25 de Agosto de 1957 junto da Capela Velha de Santa Margarida. Exerceu vários cargos importantes na Cúria da Diocese de Coimbra.

domingo, 23 de outubro de 2016

As casas da Chã II - A casa do Dr.Falcão



No artigo anterior escrevi  sobre a Casa do Pátio ,e proprietários da mesma. Da descendência dessa bastada casa do pátio nasceu Maria Rita Henrique de Matos ,matriarca dum vasta prole ,ilustres da povoação, e proprietários igualmente de abastada moradia em Chã de Alvares.

 Nascida em Janeiro de 1823,em Casal de Cima, na Casa do Páteo, Maria Rita, morreu em Janeiro de 1880.Casou com António Joaquim Alves da Silva, numa cerimónia realizada em 5 de Fevereiro de 1850 na Capela de São José em Fonte Limpa. A dita capela, terá sido cabeça de um vínculo do qual foi Administradora, por nomeação ou por herança, a Senhora Morgada D. Josefa Maria Gonçalves, mãe da Bisavó. António, seu marido, três anos mais velho, faleceu em 1879 e foi Presidente da Camara da Pampilhosa da Serra entre 1849-1851,Subdelegado do Procurador Régio e nomeado Escrivão da Fazenda em 1863.Possuia abastada fortuna. Tiveram diversos filhos:

José Maria Henriques da Silva-Nasceu nas Tulhas a 31.1-1851,e foi batizado a 5 de Fevereiro de 1851,na Igreja de Nossa Senhora do Pranto, na Pampilhosa da Serra, pelo Padre José Alves Henriques de Carvalho, seu tio materno e Padrinho. Fez os seus estudos na Universidade de Coimbra, onde se formou em Direito em 1874,nesse mesmo ano e com apenas 23 anos assumiu  o cargo de Presidente da Camara Municipal da Pampilhosa até 1879,tal como fora seu pai. Foi Administrador do Concelho de Pampilhosa no período de 1881- 1883. Nesta data foi nomeado Conservador do Registo Predial de Benavente. A sua vida seguiu então um novo rumo. Fixou residência naquela vila Ribatejana e dedicou-se à vida política, filiando-se no Partido Regenerador de João Franco, acompanhando-o na dissidência. Foi eleito presidente da Câmara de Benavente. Em 1886, casou com D. Maria Bernardina Ribeiro Telles, na localidade de Santo António do Couço, no concelho de Coruche, onde se instalou. Tiveram numerosa descendência.

Após a implantação da República deixou os cargos que desempenhava em Benavente para se consagrar à agricultura, em cuja atividade obteve elevado prestígio tendo sido considerado o maior e mais próspero lavrador do concelho de Benavente. Foi um extraordinário benfeitor que utilizou muitos dos seus recursos em diversas obras de beneficência e jamais esqueceu a sua terra natal, Pampilhosa da Serra, acarinhando de forma especial a conferência de São Vicente de Paulo, a Caixa Escolar e o Grupo Musical Fraternidade Pampilhosense

 Faleceu a 18 de Dezembro de 1944 em Santo António do Couço. Chegou a ser considerado o maior e mais abastado lavrador do concelho de Coruche.

Francisco Henriques da Silva-Nascido a 12 de Março de 1859.Morreu ainda na infançia.

António Maria Henriques da Silva-nasceu a 16 de Julho de 1853 nas Tulhas e foi batizado na Igreja de Nossa Senhora do Pranto da Pampilhosa da Serra. Homem de notável inteligência foi Bacharel em Filosofia e Matemática e Doutor em Medicina pela Universidade de Coimbra, onde nos três cursos foi o aluno mais classificado. Escreveu “Tuberculose Externa e Infeção Purulenta”. Segundo o Doutor Eduardo Abreu era o aluno da Universidade que mais sabia de Medicina, no seu tempo. Foi médico no Concelho de Coruche durante mais de trinta anos. Casou se a 24 de Abril de 1884,com Maria Salomé Garcia

Maria da Piedade Henriques da Silva- Nasceu em 15 de Outubro de 1854 em Pampilhosa da Serra, e aí na Igreja Matriz foi batizada a 23 de Outubro. Casou com César Baptista Cunha, natural da Freguesia do Vidual, e que há data do casamento era Diretor dos Correios na Pampilhosa da Serra. Foi educado no Colégio do Piódão que lhe permitiu o nível de conhecimento, para ir muito mais longe a nível profissional. Foi Diretor dos Correios em Braga, em Leiria e anos mais tarde nos Restauradores em Lisboa. O casal acabaria por se divorciar, indo Maria da Piedade viver em Casal de Cima. Era mãe de:

    -Maria Adelina Henriques da Silva Baptista-Devido á separação dos seus pais foi como educanda para o Colégio das Ursulinas, com as despesas pagas pelo seu tio José Henriques da Silva. Casou com Manuel das Neves, filho de João das Neves e Maria Barata. Tiveram: Maria Silvina Batista das Neves, António Cesar Batista das Neves e Manuel Batista das Neves.



      -Francisco Henriques da Silva-nascido a 12 de Março de 1859.Foi batizado a 23 de Março de 1859,e foram seus padrinhos o Prior Francisco Ignacio Freire e sua tia irmã Maria Cândida Henriques de Matos. Morreu moço



    -Maria Alice Henriques da Silva Batista-Casou com o Bacharel de Direito pela U. de Coimbra Fernando Falcão Ladeira .

Filho de Manuel Maria Lopes Ladeira e Amália Assumpção Henriques de Matos, membro de uma das mais preponderantes famílias de negociantes, não só por serem bastante abastados, mas igualmente por existirem ramos dessa família em varias povoações da freguesia, nomeadamente Fonte Limpa , Foz, Chã de Alvares e Amioso.

Casou com Maria Alice Henriques da Silva Baptista, na Capela de Santa Margarida a 22 de Novembro do ano de 1917, estudou no Colégio de São Paulo em Coimbra e em 1916 foi Bacharel em Direito pela Universidade de Coimbra, exerceu funções de  notário em Pampilhosa da Serra. Abastado proprietário em Casal de Cima, possuía abastada fortuna e tinha bastante importância no panorama da nossa aldeia. Sua esposa era neta de Maria Rita Henriques de Matos, e filha de César Batista e Cunha e Maria Piedade Henriques da Silva. Tiveram dois filhos Fernando Henriques da Silva Falcão, nascido a 16-04-18 e Maria Irene Batista Falcão Ladeira, que morreram solteiros, sem geração. O primeiro a quem as gentes da terra chamavam de Fernandinho, foi em jovem acometido de grave doença mental que o levou largos anos para um estabelecimento hospitalar onde permaneceu largos anos da sua vida. e Maria Irene morreu com 24 anos, em 1945 ,sendo  lembrada pela sua beleza e elegância, que lhe terá custado a vida pois terá morrido, com a vinagra. A sua preocupação exagerada com o peso terá levado ao consumo exagerado de vinagre que esteve na origem do seu falecimento precoce.

A sua esposa veio a  falecer já na década de oitenta ,pouco tempo depois do falecimento do seu ilho Fernando.







Foram os pais do Dr. Falcão, Manuel Lopes Ladeira e Maria Amália Assunção Henriques de Matos, quem por volta de 1890 mandou erguer uma abastada residência anexa  á Casa do Pátio ,visto que Dona Amália, como era conhecida, ser filha de uma das Morgadas, Dona Justina, que provavelmente cedeu o terreno para que sua filha ali habitasse junto a si.

 O imóvel era ao gosto da época com grandes dimensões e com uma característica varanda de madeira que dava para a propriedade rustica  anexa á casa.

Infelizmente  apenas habitada de forma permanente até ao falecimento de Dona Amália na década de quarenta ficando desde então desabitada.

O estado de abandono e degradação do imóvel foi se agravando ao longo dos anos, até que em 2000 foi devastada ao ser engolida num mar de chamas durante o incendio florestal desse verão.

As Casas da Chã I - A Casa das Morgadas

                                      
                                          AS CASAS DA CHÃ I - A CASA DAS MORGADAS

Em todo o aglomerado urbano de Chã de Alvares ,são diversas as casas que se destacam, não só pela sua dimensão,mas igualmente pela distintas características que as distinguem das restantes casas humildes e denunciam a sua origem mais nobre. Vou tentar ,dentro do possível , nos próximos artigos falar de algumas delas.





Situada no Casal de Cima, era conhecida pelos mais velhos  como a Casa das Morgadas, por ali terem vivido até ao fim da sua vida as filhas solteiras de Josefa Maria Gonçalves, Senhora do  Morgado de São José de Borreis.
Na sua estrutura original era um enorme casarão que contornava para duas ruas, sendo que numa das partes dava para uma propriedade rústica e do lado oposto para um pátio, oculto do exterior por um alto muro e portão. Aquele pátio era tão grande que ,por via disso, deu á família proprietária, a denominação de Casa do Pátio, quando a ela alguém tinha de se referir.




Não há registos da sua construção, mas esta deverá ter sido na segunda década do século XIX, a mando dos seus proprietários,o abastado casal: Morgada Josefa Gonçalves e seu marido ,António Henriques de Matos, Monteiro-Mor de Alvares, talvez o ultimo desse Município. Tal  como sua esposa, António era descendente de abastada família que ao longo de  várias gerações  rivalizou em riqueza e poder com as abastadas famílias: Mota Tavares e Rebelo .







Ela, Josefa Gonçalves, nascida em 1806 e herdeira de seu tio Manuel Antão, de Borreis, Procurador do Concelho de Alvares, e Senhor do Morgado de São José de Borreis, e irmão de sua mãe Maria Josefa Antão Tavares. E ele, António Henriques de Matos,importante proprietário rural, filho de  Manuel Henriques de Vide e de Maria Luísa Henriques de Matos, nascido a 21 de Dezembro de 1797 e nomeado Monteiro Mor de Alvares por carta de 27 de Agosto de 1824.

A profissão de Monteiro Mor remontaria aos princípios da monarquia portuguesa, quando se tem notícia do cavaleiro Rui Monteiro, monteiro-mor de D. Afonso Henriques; os genealogistas o consideram o primeiro portador atestado do apelido. O monteiro-mor, do Reino ou local, era o funcionário real responsável por superintender ao domínio público: rios, florestas, e em especial às caçadas e coutadas. D. João I de Portugal levava o assunto tão a sério que chegou a escrever um tratado sobre o tema ,o Livro da Montaria, sobre o "jogo dos reis", ou seja, as coutadas reais. O ofício de monteiro estaria ligado à origem, em tempos modernos e com a evolução acadêmica, da profissão de engenheiro florestal.

Deste casamento nasceriam diversos filhos, todos eles tendo como berço esta abastada casa:



Ludovina Henriques de Matos-Nasceu em 1833 no Casal de Cima. Foi casada com António  Francisco Mendes, nasceu a 24 de Fevereiro1845, e morreu em 1885.O casal teve um filho de nome António que faleceu em 1863.Foram pais novamente um ano mais tarde de um filho ao qual puseram o nome de António Mendes. António  Francisco Mendes, que foi vereador da Camara Municipal da Pampilhosa da Serra, faleceu em 1915,no Soeirinho,na sua Quinta da Feteira.

       António Mendes-Nascido a 3.5.1864,foi batizado na Igreja Matriz da Pampilhosa por pelo Padre José Henriques de Matos em 4.5.1864.Faleceu a 19.7.1939.

       Maria Amália Henriques de Matos-Casada com Francisco Henriques da Cunha. Tiveram filhos:

            Ernestina Henriques da Cunha-Nascida a 20.5.1893-1963,afilhada do Padre José H. da Matos ,á data do seu batizado  pároco em Pessegueiro. E de Rosalina Henriques de Matos e Cunha, sua irmã. Viveu em Arganil e casou com  António Simões Peixoto. Não deixaram descendência.

          Rosalina  Henriques de Matos Cunha- Casou com Manuel Santos Ferreira, professor em Paradela da Cortiça, Góis e Alvares e presidente da Junta e Juiz de Paz de Alvares. Foi professora em Chã de Alvares na década de trinta .Foram pais de:

                       Anselmo Santos Ferreira (1903-1986).

                       Albertino dos Santos Ferreira

                       Aida dos Santos Ferreira

José Maria Henriques de MatosPadre em Chã de Alvares- Nasceu a 9 de Julho de 1840,na Casa do Páteo em Casal de Cima, onde viviam os seus pais. Foi ordenado em 1869,tendo sido Pároco em Alvares entre 1891 e 1904 e grande proprietário. Viveu grande parte da sua vida no Casal de Diogo Vaz, casa essa fruto da herança deixada pela sua prima Maria Encarnação com quem viveu maritalmente desde que esta se tornou viúva. Faleceu em 1924,foi igualmente Presidente de Junta de Freguesia em Alvares no período de 2/1/1918 a 7/9/1919,sucedido posteriormente por Álvaro Cortez Rebelo. Nasceu, tal como seus irmãos na Casa do Páteo, foi viver posteriormente com sua prima Maria Encarnação, quando esta ficou viúva de Manuel da Mota e moradores em Casal de Diogo Vaz. Aí viveu toda a sua vida até falecer. Sua prima Maria da Encarnação, deixou-lhe em herança a casa que ficou conhecida como a Casa do Padre.

O Padre José Maria faleceu no dia 15 de Dezembro de 1924,deixando uma das maiores fortunas da região.

Foto do Padre José Maria Henriques de Matos
Maria Rita Henriques de Matos-Nascida em Janeiro de 1823,em Casal de Cima, na Casa do Páteo, morreu em Janeiro de 1880.Casou com António Joaquim Alves da Silva, numa cerimónia realizada em 5 de Fevereiro de 1850 na Capela de São José em Fonte Limpa. A dita capela, terá sido cabeça de um vínculo do qual foi Administradora, por nomeação ou por herança, a Senhora Morgada D. Josefa Maria Gonçalves, mãe da Bisavó. António, seu marido, três anos mais velho, faleceu em 1879 e foi Presidente da Camara da Pampilhosa da Serra entre 1849-1851,Subdelegado do Procurador Régio e nomeado Escrivão da Fazenda em 1863.

Constância Henriques de Matos - nasceu a 6 de Novembro de 1837 Morreu solteira no casal de cima, a 23 de Setembro de 1930,na casa onde sempre viveu a Casa do Pátio em Casal de Cima, foi a ultima da irmandade a falecer.







Dona Constância


Fortunata Henriques de Matos (Gonçalves) - 1845-1885-Morre solteira Vitima de Tifo

Joana Henriques de Matos (Gonçalves) -1830-1885- Morre Solteira Vitima da Tifo


Maria Cândida Henriques de Matos (1835-1920) –Batizada a 21 de Dezembro de 1835,poucos dias depois do seu nascimento no Casal de Cima. Viveu toda a vida em Chã de Alvares, onde faleceu solteira. Morou nos últimos anos da sua vida com o irmão o Padre José Maria Henriques. Faleceu a 19 de Agosto de 1920

Manuel Henriques de Matos-Nasceu a 23 de Abril de 1829,em1903 faleceu no Casal de Cima, solteiro. Foi  chefe dos Progressistas no Município de Gois.

Umbelina Henriques de Matos-Nasceu em Dezembro de 1830 e faleceu solteira em 1852

Joaquina Henriques de Matos-1826-1885

Antonino Henriques de Matos-1822-1846

Justina Henriques de Matos-1827-1901,casa com Manuel Lopes Falcão, alfaiate, oriundo da aldeia de Amioso Cimeiro (1829-1882),deste casamento nasce:

     Maria Encarnação –Nascida em 1856 ,morre solteira em 1885,com vinte e sete anos vitima de uma vaga de Gripe na povoação.

      Manuel Henriques Lopes Falcão 1859-1912-Jovem inteligente e empreendedor, após  frequência na Universidade de Coimbra, instala-se no Porto, onde se estabelece como comerciante, criando  vasta riqueza. Morreu solteiro em 1912,naquela cidade.

     Amália Assunção Henriques de Matos Falcão-23.12.1861- 7.5.1945 e casa com Manuel Lopes Ladeira. Tiveram um filho:

               Fernando Falcão Ladeira-Casado com Maria Alice Henriques da Silva. Ficou conhecido como grande benemérito na povoação. As gentes da terra recordam ainda hoje o Dr. Falcão como ficou conhecido





Com a morte dos seus últimos moradores, no inicio da década de trinta e tendo os restantes partido para outras paragens , a abastada casa acabou por ficar encerrada largos anos e posteriormente ser vendida em três lotes  a João Vitor,Manuel Braçal e Manuel Pedro.

domingo, 16 de outubro de 2016

A epidemia de cólera de 1853-1856 em Chã de Alvares


O longo dos tempos, várias foram as epidemias que assolaram o mundo, dizimando milhares de vidas.Com níveis de mortandade maior ou menor, foram sempre as responsáveis pelas altas taxas de mortalidade existente. Nos últimos duzentos anos, épocas houve de maior taxa de mortalidade, como as que ocorreram em 1855, 1899 e 1918 na região serrana, onde a cólera, a peste bubónica, o tifo exantemático, a gripe pneumónica e a varíola atacaram e mataram percentagens elevadas da população.Essa mortandade extraordinária é não só explicada por epidemias, mas igualmente por anos de maior carência alimentar.

A epidemia de 1853-56,matou milhões de pessoas em todo o mundo, tendo vitimado mais pessoas que a Gripe Espanhola, em 1918.

Depois de se espalhar por toda a Europa e pelo Mediterrâneo, Canadá, Estados Unidos e as ilhas das Caraíbas em 1853, essa epidemia de cólera chegou a Portugal em Dezembro pela fronteira norte, onde se registaram dois casos. Em Maio de 1854, começaram a morrer pessoas, e medidas de quarentenas foram postas em prática. Nessa fase ainda se negava a epidemia em Portugal. Os jornais portugueses transcreviam diariamente os editais do conselho de saúde, que classificavam os portos estrangeiros como limpos, suspeitos ou sujos, consoante o grau de infecção de cólera ou febre-amarela, e com implicações directas em medidas de quarentena, imediatamente contestadas pela limitação à liberdade do comércio. De facto, os países afectados ficaram praticamente paralisados nesses anos devido ao número de mortes e à imposição das medidas sanitárias. Nos anos seguintes, as duas epidemias espalharam-se para o Brasil, onde, até Dezembro de 1855, vitimaram, só no Rio de Janeiro, 3.540 pessoas (O Comércio, 20 dez. 1855, p.2).

Em simultâneo, outras doenças afectaram o norte de Portugal nesse ano de 1854: a raiva, o sarampo e o tifo, e as febres intermitentes (malária) junto aos campos de arroz, nessa época a provocar grandes danos especialmente no termo de Leiria. Em Setembro, as cidades portuguesas de fronteira começaram a tomar medidas preventivas para evitar o contágio de Espanha. E os jornais começaram a alertar as autoridades sanitárias para limpar as cidades e tomar as medidas aconselhadas pela higiene. Em Janeiro de 1855, a Andaluzia (no sul de Espanha) e a Galiza (ao norte) foram consideradas sujas ou infectadas, o que constituía um perigo directo para as fronteiras portuguesas. Contudo, a cólera acabou por penetrar Portugal pelo rio Douro, infectando com gravidade as vilas ribeirinhas a partir de Maio. Imediatamente o Porto foi isolado: nenhum barco podia chegar pelo rio à cidade sem passar pelo controlo montado uns quilómetros antes de cumprir a quarentena. Os protestos começaram logo nos jornais portuenses contra esse "verdadeiro atentado à liberdade do comércio" e contra as "medidas ineptas, que muito prejudicam o público, e especialmente a classe comercial" (O Comércio, 16 maio 1855, p.2), e que ainda por cima permitiam a passagem das pessoas por via terrestre.

Ao mesmo tempo que o Porto se preparava para a invasão da epidemia, montando hospitais especiais, distribuindo panfletos explicativos das medidas de higiene e ocupando as meninas da sociedade com os bordados para os lençóis e as roupas para os doentes, a discussão nos jornais sobre o tema do contágio e da verdadeira eficácia das medidas de quarentena chegava ao rubro (Martins et al., 1997). Especialmente quando as feiras e os mercados foram proibidos, em Junho de 1855; considerando que essa era a base da actividade económica da região, os produtores poderiam ir à falência se não colocassem os seus produtos, o que constituía "uma calamidade superior à transmissão do mal, porque o mal resultante é muito maior aumentando a miséria" (O Comércio, 1 ago. 1855, p.1).






Às medidas sanitárias impostas pelas autoridades, que proibiam a concentração e a circulação de pessoas e bens, os jornais contrapunham com a negação do contágio, o que evidenciava a inutilidade das referidas medidas: "Ora está-nos parecendo que se o cólera fosse contagioso, como a peste, a sarna, ou a lepra, pelo menos o teria agarrado o snr. delegado de saúde, que tanto contacto e comércio tem tido com gente vinda do Douro..." (O Comércio, 21 jun. 1855, p.2). Para sustentar a sua posição, os jornais forneciam abundantes exemplos dos países 'mais avançados' do norte da Europa, que não tinham adoptado esse tipo de medidas (Baldwin, 2005) e com citações e artigos completos de publicações científicas internacionais. Por exemplo, O Comércio transcreveu um artigo do doutor H. Chomet, publicado no Jornal do Commercio do Rio de Janeiro em 4 de Setembro de 1855, que pretendia tranquilizar as pessoas atemorizadas pela ideia do contágio da moléstia. ... Depois de uma vigorosa observação, experiência fatal e discussão séria, todos os povos mais cultos da Europa concordaram em considerar o cólera como não contagioso. ... Vejamos pois algumas provas, observações e experiências. Nas doenças verdadeiramente contagiosas, tais como a sífilis, bexigas, hidrofobia, vacínio, etc., acha-se sempre uma substância orgânica secretada durante a enfermidade, a qual inoculada produzirá infalivelmente a mesma enfermidade. No cólera morbus nada disso se observa. Os sintomas são os de um verdadeiro envenenamento por agente imponderável espalhado nos ares, produzindo a aniquilação das forças vitais, diminuição ou supressão das funções principais, e seguido de uma reacção violenta, porém saudável, quando o princípio tóxico é repelido da economia. ... A rapidez da difusão da epidemia deve afastar ainda a ideia do seu contágio... sem que seja possível admitir a transmissão dos miasmas emanados do corpo dos enfermos (O Comércio, 13 out. 1855, p.1-2).



Na mesma linha, as medidas higiénicas preventivas eram consideradas essenciais, uma vez que a verdadeira causa da doença residia, segundo os redatores, em comportamentos desviantes e na falta de cuidados. Nessa fase abundaram os artigos desenvolvidos com conselhos de higiene para limpeza das casas e das ruas e os anúncios de livros de medicina especializados em cólera, incluindo os tratados homeopáticos, amplamente divulgados e anunciados nas páginas dos jornais.



Essa discussão tão presente nos jornais reflectia a tendência da época, que dividia os defensores da teoria do contágio e os seus opositores. Enquanto, durante séculos, o contágio das doenças fora defendido, o século XIX viu surgir uma nova geração de cientistas que o negaram, baseando-se na ineficácia das quarentenas e dos cordões sanitários (especialmente na altura da epidemia de cólera de 1832), remetendo-o para o domínio do fantástico, absurdo e infantil. Baseados em experiências várias, incluindo no seu próprio corpo, e imbuídos do espírito liberal da época, os cientistas defensores do 'anticontagionismo' lutaram pela liberdade do indivíduo e do comércio, contra o despotismo e a reação (Ackerknecht, 1948). Verificou-se assim, numa clara associação entre teorias anticontágio e interesses comerciais, que os governos do norte da Europa, mais liberais e progressistas, avançaram com políticas higienistas abolindo quarentenas e cordões sanitários, enquanto os do sul da Europa, mais conservadores, mantiveram as práticas correspondentes à teoria do contágio. O Porto, uma cidade liberal, mercantil e em pleno desenvolvimento industrial e comercial, reagiu violentamente contra a autoridade da capital, que o obrigou ao cordão sanitário. E os seus jornais, por lealdade política e dependência económica, fizeram uma campanha forte e persistente contra as medidas autoritárias impostas pela capital durante todo o período em que elas duraram.



O Porto foi oficialmente considerado sujo em 1º de Julho de 1855, mas as notícias continuaram a negar a epidemia. Tomaram-se medidas oficiais para combater a cólera, como por exemplo os já referidos hospitais, a visitação das casas de malta e das ilhas (habitações operárias colectivas, cujas condições de vida eram insalubres), e o fornecimento gratuito de medicamentos nas farmácias. Nas vilas pequenas esses serviços foram mais difíceis de fornecer, porque havia falta de médicos e de medicamentos. Os jornais do período forneciam também relatórios diários do movimento dos hospitais e das taxas de mortalidade.



A epidemia no Porto durou oficialmente até Novembro. No dia 5 foi considerado suspeito e já no dia 21, limpo. Houve fogos de artifício e celebrações nas ruas. Mas nas pequenas vilas do norte de Portugal a epidemia continuou e só em Dezembro foram permitidos os primeiros mercados. Em Coimbra, a cidade universitária, a epidemia atacou em meados de Outubro, e as aulas foram encerradas, reabrindo por decreto real apenas em 7 de Janeiro de 1856. A educação e o comércio não foram as únicas actividades a serem afectadas: naquele verão as famílias da elite não se deslocaram aos seus habituais locais de veraneio, e as praias ficaram desertas, o que prejudicou a economia local, originando as habituais queixas e a negação da epidemia. Por exemplo, da Póvoa de Varzim enviaram a seguinte correspondência, em resposta a uma notícia da Gazeta Médica de Lisboa sobre a cólera nessa localidade: "A moléstia ali pode dizer-se extinta... Àquela localidade costuma afluir muita gente para banhos do mar, uma semelhante notícia sem rectificação iria acarretar imensos prejuízos aos seus habitantes, que ansiosamente esperam por esta época para obter os meios de subsistência para o resto do ano..." (O Comércio, 25 set. 1855, p.2).

O Algarve apresentou um cenário muito pior, devido à falta de médicos e de qualquer espécie de assistência. Houve vilas inteiras que ficaram desertas não só pela morte dos seus habitantes, mas também pela sua fuga, provocada pelo terror. Foram necessárias medidas extremas, incluindo o envio de um vapor de guerra com cinco médicos, medicamentos e alimentos para essa província "onde há escassez de géneros e reina a epidemia" (O Comércio, 7 set. 1855, p.2).



Lisboa foi menos afectada nesse ano. Também teve medidas de quarentena, inspecções sanitárias e hospitais especiais, mas a sua situação foi pior nos anos seguintes. No total, em 1855 faleceram 2.306 pessoas no distrito do Porto e no Algarve, 2.270: "O balanço final, no conjunto do território do continente, cifrou-se em 8.718 óbitos, ou seja, cerca de 45% em relação ao total dos atacados pela moléstia" (Cascão, 1993, p.432). Para termos uma ideia da grandeza da taxa de mortalidade, podemos dar o exemplo do hospital de coléricos estabelecidos no Porto, na rua das Águas Férreas, em que "desde o dia 18 de Julho até ao dia 8 de Setembro o movimento foi o seguinte: Entraram 494 coléricos... faleceram 194..." (O Comércio, 10 set. 1855, p.1). Esses valores permitem-nos apurar uma percentagem de mais de 39% de vítimas da epidemia em meio hospitalar. Supomos, segundo também as indicações dos jornais da época, que aconselhavam as pessoas a dirigir-se aos hospitais, que esses números seriam bastante mais elevados no meio doméstico, em que não havia tantos cuidados médicos e assistência profissional:

“Os falecimentos até hoje têm sido quase todos nas pessoas pobres, o que é devido em grande parte ao seu desleixo em requisitarem prontos socorros, logo que aparecem os primeiros sintomas da moléstia. É mui raro falecer um atacado de cólera, a quem se tenha imediatamente acudido com os remédios convenientes. O tratamento no hospital dos coléricos é o mais esmerado e caritativo, e nada falta aos doentes (O Século, 3 nov. 1855, p.2-3).



No ano seguinte a epidemia espalhou-se de Lisboa para a ilha da Madeira, matando mais nove mil pessoas, 3.600 das quais na capital. Ainda em 1856 a febre-amarela, importada do Brasil em Julho, ajudou a aumentar a taxa de mortalidade. Em 1857 quase 10% da população de Lisboa contraiu a doença. Das 17 mil pessoas afectadas, cinco mil pereceram (Cascão, 1993). Além da cólera, da febre-amarela e das já referidas doenças endémicas, houve ainda outras duas grandes epidemias que se destacaram no panorama epidemiológico português: em 1899, a peste bubónica no Porto, com 320 casos e 112 mortes; e em 1918, a gripe pneumónica, que se espalhou por todo o planeta e vitimou entre 59 mil e 135 mil pessoas (as estatísticas divergem) só em Portugal (Ferreira, 1981; Sobral et al., 2009).

Em Chã de Alvares, tal como na freguesia de Alvares, a epidemia só veio a provocar maior número de vítimas em 1856 e 1857,talves explicado pelo isolamento em que esta região se encontrava. Os primeiros casos surgiram apenas  em finais de 1855 nos meses de Setembro a Dezembro, provavelmente fruto do contágio provocado pela migração sazonal para os campos do Alentejo, Estremadura Espanhola e Ribatejo de pessoas locais, que no regresso vieram infectadas pelo vírus da cólera. Em apenas um ano faleceram na povoação mais de 30 pessoas, na sua maioria jovens e vítimas da cólera.

Faleceram na freguesia de Alvares 143 pessoas no ano de 1856,e 105 em 1857,os anos de maior mortandade. Números demasiado elevados para uma freguesia cujo numero de óbitos nos anos anteriores tinha sido:

1853-52 Óbitos

1854-56 Óbitos

1855-81 Óbitos

A lista de vítimas é a seguinte:

28.09.55-Joaquina Barata, Santa Margarida

3.10.55- Recém-nascido filho de Josefa Leonarda , solteira. Casal de cima

3.11.55- Maria Vicenza, esposa de Manuel António -Casal de Baixo

10.11.55-Maria Lima, viúva de Florindo Barata -Casal de Cima

23.11.55- Maria Joaquina, esposa de Manuel Pedro -Carrasqueira

02.12.55 Recém-nascido, filho de Manuel Ferreira Fontes e Maria Lima- Santa Margarida

12.12.55-Maria Joaquina, solteira, filha de José Hipólito e Maria das Neves -Casal de Baixo

18.12.55-Feliciana Maria, viúva de Manuel do do Loureiro - Casal de Baixo

04.01.56-Maria dos Prazeres, menor de idade fila de João Romão e Joaquina Barata - Casal de cima

25.03.56- Joaquim Lopes Ladeira, solteiro, filho de Manuel Lopes Ladeira e Luísa Alves - C.Cima

26.03.56- João, menor, filho de António Fernandes e Maria Rita - Casal d cima

02.03.56- Maria, menor, filha de João Antunes e Maria Garcia -Casal de Cima

09.03.56-Joaquim,menor,filho de Manuel Pedro e Maria Joaquina Carrasqueira

16-03-56-Martinha,menor filha de João Duarte e Vicenza Maria -Santa Margarida

26.03.56- Ana, menor, filha de João Antunes e Maria Garcia –Casal  de Cima

29.03-56- Ana Maria,solteira- Carrasqueira

07.05.56-Justina,menor,filha de Manuel Pedro e Maria Joaquina -Carrasqueira

27.05.56- António, menor, filho de Agostinho António e Joaquina Rodrigues -C.Cima

31.05.56-Maria,menor,filha de João Alves e Maria Ana -Casal de Cima

01.06.56-Justina,menor,filha de Manuel António e Maria JOSEFA -Carrasqueira

29.06.56-Rosa Maria, esposa de JOÃO Pedro - Casal de Cima

31.06.56- Bernarda Maria, viúva de Manuel Lopes- CASAL DE CIMA

09-08-56- Manuel, filho de João das Neves e Benedita Maria -Casal de Cima

15.08.56-Justina,menor,filha de António Francisco e Joaquina Maria -Casal de Baixo

16.08-56- Maria Antão, viúva de José Duarte -Casal de Cima

16.08.56-Anna,filha de José da Fonseca e Joaquina Maria- Casalinho

19.08.56-Antonio Alves Roda, viúvo de Joaquina Maria Casal de CIMA

28.08-56- António Antão, esposo de Luísa Maria - Casal de cima

01.09.56- José, menor, filho de José Miguel e Maria Peralta -Casal de Baixo

03.09.56- António, filho de José Duarte e Maria Antão - Casal de Cima

09.09.56-Antonio.menor,filho de José Miguel e Maria do Rosário (Peralta ) -Casal de Baixo

16.09-56-Manuel,menor,flho de José Antão e Luísa Maria -Casal de Baixo

18.09-56-Joaquim,solteiro,filho de José Barata e Jacinta das Neves -Casal de Baixo

18.09.56-Umbelina,menor,filha de José Antão e Luísa Maria – Casal de Baixo

19.09.56-Anna,menor,filha de Manuel Dias e Ana Maria Casal de Baixo

20.09.56- José. Menor filho de José Tomé e Maria Isabel -Casal de Baixo

20.09.56-Maria,menor,filha de Júlio Dias e Jacinta do Rosário -Casal de Baixo

22.09.56-Luiza Micaela, viúva de João Fernandes -Casal de BAIXO

26.09.56- Abílio, menor, filho de José Miguel e Justina Maria-Casal de BAIXO

19-10.56-Manuel,menor,filho de José da Bernarda e Justina Maria-Casal de Baixo

28.10.56- Augusto, menor, filho de Josefa Maria, solteira -Carrasqueira

30.10.56- Maria da Nazareth , menor ,filha de Joana Florentina ,solteira -Casal de Baixo

19.11.56- Joaquina, menor, filha de António João e Joaquina Maria – Carrasqueira

3.12.56- Maria, menor, filha de António Mota Tavares e Umbelina José de Mattos -Casal de Diogo Vaz

04.12.56- Joaquina Maria, viúva de Aleixo de Carvalho - Casal de Cima

09-12-56- João, solteiro, filho de Manuel Lopes e Maria Barata Covão

30.04.57-Manuel,filho de António Pedro e Maria JOSEFA- Carrasqueira

20.05.57-Manuel Lopes Ladeira, casado com Luísa Alves -Casal de Cima

04.07.57- Joaquim Barata de Mendonça, antigo Escrivão do Concelho de Alvares, viúvo de Antónia Maria – Covão

24.09.57- Recém-nascido, filho de António Romão e Francisca das Neves - Covão

24-11-57- Manuel da Mota Tavares, viúvo de Ana Cândida - Casal de Diogo Vaz



Numa breve análise das vítimas percebe-se que o período de maior mortalidade se verificou no último semestre de 1856,com incidência para o mês de Setembro onde só no Casal de Baixo faleceram dez pessoas, tendo igualmente este o aglomerado da Chã mais fustigado pela epidemia, talvez por ser o lugar mais pobre e insalubre da povoação. Mais de uma centena de pessoas viviam em pouco mais de duas dezenas de habitações em péssimas condições de higiene. Pouca ou nenhuma informação existe sobre as medidas tomadas para controlar os efeitos da Cólera na região, contudo não deve ser difícil de imaginar que alguns lugares tenham ficado interditos e tenham sido proibidas as feiras e festividades. Em 1857 já a Taxa de Mortalidade regressou aos níveis normais no aglomerado chãsense, tendo contudo a epidemia a dizimar vidas em aldeias como Mega Cimeira e Amioso Cimeiro.

De 1855 até meados da década de sessenta do século passado, os hábitos e costumes não seriam muito diferentes. As pessoas conviviam com os animais. Nas lojas e palheiros, faziam-se serões e dormiam pessoas entre as vacas e burros. Nas cortelhas dos currais criava-se o porco. E, ainda, tinham as galinhas que andavam pelas ruas, esgravatando na imundice das valetas ou nos charcos da calçada irregular de seixos. Aos animais fazia-se a «cama» com palha e ramalhos. Amontoava-se o estrume, no rés-do-chão das casas e nos currais. E as pessoas onde faziam as suas «necessidades»? Na mesma estrumeira... Ao longo de décadas, os alunos iam defecar ou urinar aos currais ou contra as paredes das casas próximas da escola.

A mortalidade só diminuiu ao longo desse período graças ao avanços da medicina,mais do que á melhoria das condições de salubridade em que viviam as populações.

quarta-feira, 31 de agosto de 2016

As Invasões Francesas: Chã de Alvares em tempo de guerra


 A Guerra Peninsular,também conhecida em Portugal,como as Invasões Francesas e em Espanha como Guerra da Independência Espanhola,ocorreu no inicio do século XX,entre 1807 e 1814,na Peninsula Ibérica,e insere-se nas chamadas Guerras Napoleónicas.
A principio o conflito,envolveu Espanha e França de um lado e Portugal e Reino Unido da Grã Bretanha e Irlanda,do outro.Porém a guerra acabaria por ter repercussões além no espaço europeu e influençiar os movimentos independistas das colonias da América Latina.
Estes conturbados momentos surgiram na sequência de momentos históricos como a Campanha do Rossilhão(1793-1795),quando tropas de Portugal reforçãm as da Espanha integrando a primeira aliança liderada pela Inglaterra contra a França revolucionária.A partir da ascensão de Napoleão Bonaparte (1799),a Espanha alia-se á França para,por meio da invasão e da divisão de Portugal entre estes,atingir indiretamente os interesses comerciais de Inglaterra.
Em Julho de 1807,com os Acordos de Tilsit,abriu-se um novo capitulo no conflito já existente.Em agosto,emquanto Napoleão concentrava as suas tropas em Bayonne para invadir Portugal,os representantes de França e Espanha marcham rumo a Lisboa,para entregar ao Principe Regente D.João,os seus "pedidos":Portugal teria de se juntar a França no bloqueio decretado por este país a Inglaterra,encerrando os seus portos maritimos á navegação britânica,decretando ainda guerra a Inglaterra e expoliar e prender todos os ingleses residentes em territorio nacional.Como aliado de Inglaterra que era o Rei D.João I,optou por manter os laços com aquele país e rejeitar as exigençias de Napolão Bonaparte.
Antes mesmo de saber a decisão do Principe Regente de Portugal,Napoleão assinou o Tratado de Fontainebleau,em que Espanha e França preveem a partilha de Portugal entre si.Essa partilha consistiria na divisão de Portugal no Reino da Lusitânia Setentrional,Entre-Douo-e-Minho,destinado á Rainha da Etrúria,e no Reino dos Algarves,destinado a Manuel Godoy,o Principe da Paz,ministro de Carlos IV,Rei de Espanha.
 Tratado Secreto entre a Espanha e a França assinado em Fontainebleau a 27 de Outubro de 1807 tem o seguinte texto:
Nós Napoleão, pela graça de Deus e da Constituição, Imperador dos Franceses, Rei da Itália e Protector da Confederação do Reno, tendo visto e examinado o tratado, concluído, arranjado e assinado em Fontainebleau, a 27 de Outubro de 1807, pelo general-de-divisão Michel Duroc, Grão-Marechal do Nosso Palácio, grão-cavaleiro da Legião de Honra, etc., em virtude de plenos poderes conferidos por nós para este fim, com D. Eugenio Izquierdo de Ribera y Lezaun, Conselheiro Honorário de Estado e da Guerra de Sua Majestade o Rei de Espanha, o qual também estava munido com plenos poderes pelo seu soberano, o qual tratado é na forma seguinte:
Sua Majestade o Imperador dos Franceses, Rei da Itália e Protector da Confederação do Reno, e Sua Majestade Católica o Rei da Espanha, desejando regular por comum com sentimento o interesse dos dois estados, e determinar a futura condição de Portugal, de maneira que seja consistente com a boa política de ambos os países; tem nomeado para seus ministros plenipotenciários, a saber: Sua Majestade o Imperador dos Franceses, Rei da Itália e Protector da Confederação do Reno, ao general de divisão Michel Duroc, Grão-Marechal do Palácio, grão-cavaleiro da Legião de Honra; e Sua Majestade Católica o Rei da Espanha, a D. Eugénio Izquierdo de Ribera y Lezaun, seu Conselheiro Honorário de Estado e da Guerra, os quais ministros, havendo ambos mutuamente trocado os seus plenos poderes, concordaram no seguinte:
  • Artigo 1. — A província de Entre Douro e Minho, com a cidade do Porto, se trespassará em plena propriedade e soberania para Sua Majestade o Rei da Etrúria, com o título de Rei da Lusitânia Setentrional.
  • Artigo 2. — A província do Alentejo e o reino dos Algarves se trespassarão em plena propriedade e soberania para o Príncipe da Paz, para serem por ele gozados, debaixo do título de Príncipe dos Algarves.
  • Artigo 3. — As províncias da Beira, Trás-os-Montes e Estremadura portuguesa, ficarão por dispor até que haja uma paz, e então se disporá delas segundo as circunstâncias, e segundo o que se concordar entre as duas partes contratantes.
  • Artigo 4. — O Reino da Lusitânia Setentrional será tido pelos descendentes de Sua Majestade o Rei da Etrúria, hereditariamente e conforme as leis da sucessão, estabelecidas na família que ocupa o trono da Espanha.
  • Artigo 5. — O Principado dos Algarves será tido pelos descendentes do Príncipe da Paz hereditariamente e conforme as leis de sucessão estabelecidas na família que ocupa o trono da Espanha.
  • Artigo 6. — Se não houver descendentes ou herdeiros legítimos do Rei da Lusitânia Setentrional ou do Príncipe dos Algarves, se disporá por investidura do Rei de Espanha, de maneira que nunca se unirão debaixo de uma só cabeça, nem se anexarão à coroa de Espanha.
  • Artigo 7. — O Reino da Lusitânia Setentrional e o Principado dos Algarves reconhecerão como protector Sua Majestade Católica o Rei de Espanha, e em nenhum caso os soberanos destes países farão paz ou guerra sem o seu consentimento.
  • Artigo 8. — No caso de que as províncias da Beira, Trás-os-Montes e Estremadura portuguesa, tidas em sequestro, se devolvam na paz geral à Casa de Bragança, em troca de Gibraltar, Trindade e outras colónias, que os ingleses têm conquistado à Espanha e seus aliados, o novo soberano destas províncias terá, relativamente a Sua Majestade Católica o Rei de Espanha, as mesmas obrigações que tem o Rei da Lusitânia Setentrional e o Príncipe dos Algarves, e as terá debaixo das mesmas condições.
  • Artigo 9. — Sua Majestade o Rei da Etrúria, cede o Reino da Etrúria em plena propriedade e soberania a Sua Majestade o Imperador dos Franceses e Rei da Itália.
  • Artigo 10. — Assim que as províncias de Portugal forem definitivamente ocupadas, os diferentes príncipes que as devem possuir nomearão mutuamente comissários para verificar os seus limites naturais.
  • Artigo 11. — Sua Majestade o Imperador dos Franceses e Rei da Itália, garante a Sua Majestade Católica o Rei de Espanha, a posse dos seus domínios no continente da Europa, situados ao sul dos Pirenéus.
  • Artigo 12. — Sua Majestade o Imperador dos Franceses e Rei da Itália obriga-se a reconhecer a Sua Majestade Católica o Rei da Espanha como Imperador das Duas Américas, quando tudo estiver pronto para Sua Majestade assumir este título, que pode ser, ou ao tempo da paz geral, ou o mais tardar três anos depois daquela época.
  • Artigo 13. — As duas altas partes contratantes concordam mutuamente em uma igual divisão das ilhas, colónias e outras possessões ultramarinas de Portugal.
  • Artigo 14. — O presente tratado será tido em segredo. Será ratificado e trocado em Madrid dentro de vinte dias, o mais tardar, da data da sua assinatura.
Dado em Fontainebleau, aos 27 de Outubro de 1807. = Napoleão = O Ministro dos Negócios Estrangeiros, Champagny = O Secretário de Estado, Maret



As tropas de Junot marcharam então rumo a Portugal.As incursões militares de tropas francesas no territorio nacional ocorreram nos anos de 1807-1808,1809 e 1810-1811,sob o comando dos Marechais Junot,Soult e Massena respectivamente.
Apesar das Forças Militares Francesas aconselharem a que não fosse efetuada oposição ás suas tropas ,a Familia Real optou por uma estratégica retirada para o Brasil,salvando assim não só as suas cabeças,mas igualmente a Independencia Nacional.Afinal,se o Rei não caia a Independençia seria sempre mantida.
Por sua vez o povo optou por seguir a opçãp da terra queimada,e o que o Invasor encontrou foi um cenário desolador.
Na 3ª Invasão francesa (comandadas pelo Marechal Massena) em 1810,efetuada por Almeida,estava entre a recpectiva guarnição o regimento de Milicias de Arganil,do qual fazia parte um aforça de Gois e Alvares.
Foi durante a retirada das tropas de Massena ,que vários militares franceses atravessaram a região serrana,e igualmente o antigo Concelho de Alvares,nos dias 14,15 e 16 de Fevereiro de 1811,que terão sido os de maior pavor para as populações locais.Contudo os saques prolongaram se até Abril.
Apesar do trajeto de retirada das tropas não passar diretamente por esta região(o trajeto da retirada era por Miranda do Corvo),a politica de terra queimada,que como já refi foi a palavra de ordem na luta contra o Invasor,provocou a miséria e a fome das tropas,que por necessidade e desespero se dispersaram por todo o território cometendo crimes,saqueando e destruindo tudo á sua passagem.Curiosamente no livro de Obitos dos  registos Paroquias,ficouassente no final da  década de 40 desse mesmo século o falecimento dum antigo soldado,natural de Bayonne,e que faleceu solteiro na freguesis de Alvares.
Segundo fontes da época ,os franceses,mataram na freguesia de Góis :13 homens e 4 mulheres,tendo saqueado ainda diversas igrejas e capelas da Vila de Gois e ainda de Cortecega,Ponte de Sótão,Bordeiro,Luzenda e Alvém.
No Concelho de Alvares ,segundo o relato efetuado pelo Pároco de Alvares João Carneiro, roubaram 634 animais,27 pipas de vinho,4 de Azeite e 861 Alqueires de milho,incendiaram ainda 4 casas em Mega Cimeira, danificaram muitas outras em todo o Concelho.Destruiram parcialmente 5 capelas:Cortes,Santa Margarida,Mega Cimeira,Amioso do Senhor e Alvares.
Foram assasinados José Antunes e Maria Gonçalves das Estevianas e Manuel Boiz Valente em Mega Cimeira.
As povoações junto á Ribeira de Mega terão sido as mais afetadas ,havendo registo ainda da passagem do Invasor em Obrais,Amiosos,Bouça,Cortes e Chã de Alvares
As casas mais ricas da povoação sofreram diversos roubos,nomeadamente a Quinta das Tulhas,onde roubaram vinho,Azeite e cereais e António Rebelo,a casa de José Mota Tavares,no Casal de Diogo Vaz,onde roubaram 54 cabras e 5 galinhas.
Na Casa do Pateo em Casal de Cima,onde vivia Micaela Maria ,viuva de José António Henriques de Mattos e  na casa de Manuel Barata Lima no casal de Santa Margarida,roubaram ainda vários alqueires de pão.
No mesmo registo do Vigário João Carneiro,que data de 16 de Setembro de 1811,consta ainda:"Os mais roubos não relatado não poderam comprehender se em relação,e mais estragos feitos nos interiores das casas não comportão menos daque especificam.vai supra relatado:neste......não perdeu menos de 600 000"

No total no Bispado de Coimbra,apesar de faltarem informações de 27 freguesias é de 2969 assasinatos,144 casas queimadas e 20 povoações queimadas e saqueadas.
No nº510 do Jornal de Arganil pode ler-se uma relação de artrocidades,crimes e estragos que os franceses,comandados por Massena,praticaram no Bispado de Coimbra em 1810-1811
Mortágua (30 Paróquias)-108 assassinatos,47 casas incendiadas em 19 lugares
Coimbra-(9 Paróquias)-14 Assassinatos e 7 casas queimadas
Soure(33 Paróquias)-280 Assassinatos e 14 casa queimadas
Arganil (21 Paróquias)-578 Assassinatos e 122 casas queimadas
Miranda do Corvo (27 Paróquias)-802 Assassinatos ,264 casas queimadas.
Faltando ainda informação de oito paróquias de Arganil e duas de Miranda do Corvo.
assasinados José Antunes e Maria Gonçalves das Estevianas e Manuel Boiz Valente em Mega Cimeira

Fontes:Wikipédia,Herdade de Alvares Forais e a sua História,Arquivo do Municipio de Gois,Jornal de Arganil